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domingo, março 29, 2009

Amor e Ódio

“If you hate a person, you hate something in him that is part of yourself. What isn't part of ourselves doesn't disturb us” (Hermann Hesse).


Eu era muito menina, ou moça, quando li Hermann Hesse; e li justamente "O Jogo das Contas de Vidro", que não é exatamente literatura juvenil. Ao contrário, é considerado um romance de idéias, onde o aprofundamento e a diversidade do conhecimento são colocados em constante polaridade, alternando-se em importância.
Em algum canto de mim o livro fez sentido. É como se eu soubesse que aquilo tudo era compreensível e capturável por uma sintonia ainda não revelada em mim.
Acabei perdendo (emprestando) o livro.
No ano passado comprei-o novamente.
O livro é sublime.

Lembrei-me dele agora que estou matutando sobre as questões de amor e ódio, duas polaridades ou, quem sabe, complementariedades humanas.

Lembrei-me também de Camilo Castelo Branco e seus romances AMOR DE SALVAÇÃO e AMOR DE PERDIÇÃO. Naquela época (eu li muito quando era menina) gostei bem mais de Amor de Perdição.

Morre-se de amor. Em toda a mitologia morre-se de amor. Como vítima ou como algoz.

O amor não reconhecido (admitido) se transforma em ódio. Quem muito odeia, muito ama, mas pouco reconhece o amor que sente. O amor não é algo que se retenha. Se fica condensado, contido, retido, o amor fere, o amor mata, o amor é uma arma letal.

Amor e ódio são faces de uma mesma moeda. Mas que moeda é essa? Qual é o business dessa moeda?

Não é a moeda do mercado, a moeda que conhecemos com "cara e coroa". Não. Tal moeda não é conquistada com o trabalho, não é o pay-check mensal que recebemos.

Tal moeda pertence a tesouros e relíquias sagradas. Que são conquistadas ou oferecidas aos guerreiros, em lutas justas e leais.
Tal moeda não se encontra nos mercados. É parte de tesouros escondidos, em cuja busca se empenham homens e mulheres de bem. Tesouros inalcançáveis por piratas, que não os merecem e que, ao tocá-los por uma aventura qualquer, são destruídos pela face do mais puro terror. A outra face da moeda.

É uma moeda, medalha ou bastão. Movida pelo coração de um homem bom, alcança o bem e espalha a paz. Movida pelo braço de um pirata, destrói, corrompe e traz a queda.

No Jogo das Contas de Vidro não basta chegar ao tesouro. É preciso corresponder ao tesouro.

No jogo da vida odiar é não admitir que ama, é não admitir que odeia. É não se reconhecer como o espelho mostra. É tentar subornar o espelho e todos os olhares.

No jogo da vida odiar é o outro lado da moeda, quando ainda nem de longe se chegou à arca do tesouro.