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quinta-feira, agosto 01, 2013

Amados Leitores

Este blog não está desativado. Ele deu lugar, gentilmente, a  www.aged2dream.blogspot.com


O aged é um blog de um período específico, relatando minha viagem de volta latitudinal ao mundo.

sexta-feira, março 29, 2013

Retiro, Retirement

É o olho que faz o horizonte (R. W. Emerson).

A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.
Eduardo Galeano



Depois de ver o mundo com as mãos, as laboriosas mãos que me deram a sobrevivência e o sustento precários, essas mãos agora fazem uma concha diante dos olhos, e não quero saber do passado, não quero saber do presente, só me interesso pelo futuro, se é que haverá um.

O horizonte e seu fascínio. O horizonte e seus mistérios. O horizonte e seu terror.

Peço um tempo à mesmice da vida e dou um salto infinitamente maior que as pernas. Um salto sem qualidade aparente, um salto destrambelhado, como o do covarde que é empurrado para fora do avião, sem mais memória alguma do paraquedas. Eu sou o covarde que pula e o covarde que empurra.

Meu retiro é transitando por fronteiras, medindo quem sou e como sou de dentro pra fora, sem parâmetro algum. Convivendo com frustrações e raivas muitas, plurais, enormes, tensas, assustadoras. O medo de perder o controle me ronda, mas nada me faz recuar, nem essa possibilidade tão viável de me perder muito antes de me encontrar.

Começo tendo que encarar excessos. De bagagem, de inutilidades, de tudo um pouco. Porém, carrego uma bagagem ainda necessária porque não me passa pela cabeça viajar como uma peregrina disposta a se estrupiar. Gosto de pilotar um carro de boa linhagem, gosto bem de uma cama quentinha. Só quem tem muito é que pode abdicar franciscanamente de tudo. Eu, não. Enquanto isso ou aquilo puderem me servir, vou mantendo, vou segurando e vou querendo muito muito mais! 

Meu retiro é no silêncio e no vagar das coisas. Nas pequenas leis vitais. Nos espaços na estrada, nos limites de velocidade. No acesso razoável aos bens de consumo. Me retiro da loucura pelo outro em favor da loucura por mim mesma. Se estou tensa, não é porque tenho compromissos, horários e satisfação a dar ao outro. Estou tensa comigo, com milhares de sementes que germinaram pra dentro, com esse sufocamento que minhas emoções, sempre sob controle, oh!

Meu retiro é dentro de minha vestimenta preferida, de 4 rodas, me levando para onde eu quiser ir, com uma direção leve e automatizada, deixando meus reflexos em repouso, pois enquanto isso há muito o que resolver em todas esses cruzamentos, decisões e riscos, tentativa e erro. Porque mesmo com tanto suporte tecnológico, não é de segurança que eu estou falando.

Não, não é coragem o que me move. O que me move é o medo de não realizar esse mínimo.



quinta-feira, fevereiro 14, 2013

Os Miseráveis

Sempre que posso assisto a Os Miseráveis. Já foram muitas reprises do filme estrelado por Liam Nielsen, e outras da versão estrelada por Jean Paul Belmondo.
Em cartaz no Queens Theatre há 20 anos e outro tanto na Broadway, esse belíssimo musical tem inspirado a produção de filmes em todo o mundo. As músicas são inspiradíssimas.
A produção estrelada por Hugh Jackman se baseou no musical e fez da interpretação dos atores e atrizes cantando em frente às câmeras o maior trunfo da produção. Não dá pra esquecer de toda a produção musical, que é simplesmente fantástica, como um personagem que se junta ao elenco e marca as batidas do coração nos muitos momentos épicos do filme.

quarta-feira, fevereiro 13, 2013

O Lado Bom da Vida

Dá pra entender a fartura de prêmios de Jennifer Lawrence, que rouba a cena num filme que tem Robert De Niro no elenco.
O Lado Bom da Vida pode não ter tido a intenção, mas revelou-se através do lado ruim da vida americana atual, pontuada por cortes de pensões, desemprego, loucura, impotência, alienação, morte e muitas outras perdas.
Foi-se o cultuado american way of life dando lugar a um cenário sombrio de pessoas resignadas, com exceção daqueles que sofreram uma séria ruptura emocional a ponto de cair na bipolaridade. São os filhos do TOC e das reações imbecilóides dos pais. São os filhos do pesadelo americano, atavicamente à espera de um final feliz.
Pat perdeu tudo com o que se identificava - casamento, trabalho, vida social - e acabou perdendo a própria identidade, fragilmente estabelecida no pensamento positivo e nas vãs suposições.
O ritmo do filme é dado pela agitação maníaca, as idéias fixas e as repetições mântricas de frases que deveriam exorcizar a negatividade e o caos.
Tiffany perdeu o marido num contexto de resgate do romantismo no casamento, mas talvez por ser mulher e ser mais jovem, não se perdeu junto com a circunstância adversa.
Há uma trama para que Pat e Tiffany se encontrem, o que acaba acontecendo de uma forma descontroladamente defendida e agressiva. Enquanto Pat procura recuperar a forma física em corridas intermináveis pelo subúrbio, Tiffany surge trombando nele, literalmente atingindo-o e impactando-o com o seu próprio corpo e posteriormente, com suas circunstâncias de dor e loucura.
Em Pat não há nada mais que um fiapo de lucidez, representada pela idealização da mulher perdida, com quem se considera casado e a quem busca, e por quem participa de barganhas.
No fim, quando tudo está por um fio, a família se recompõe com as mesmas neuroses de sempre, a loucura sob controle e o tão almejado final feliz, negado por Hemingway em seu Adeus às Armas, que Pat lê e joga pela janela.
Este retrato atualizado da vida americana nos leva a pensar que a roda da fortuna gira e que o momento é de muita pressão, poucas alegrias, alguma vergonha e um insuspeitado conformismo.


quinta-feira, janeiro 17, 2013

Boletim Veterinário:
Quarta-feira, dia 16.01.2013:

14:00h - consulta
Peso: 1.600g
Hálito urêmico, inapetência e apatia.


15:30h - grande vômito logo após chegar em casa, da medicação subcutânea feita na clínica e em casa.

16:30h - Mimim alternava de posição nos 2 cantos da sala perto da janela. Parecia estar melhor, apesar do vômito e eu seguia administrando a medicação oral. Mimim apresentava uma leve espumação na boca, que já apresentara na clínica.

20:00h - Peguei a nova prescrição na farmácia e iniciei a administração.

21:00h - Aumento da espumação e diminuição da atividade motora.

22:00h - Levei-a no colo para a cozinha e ela mal se sustentou em pé quando a deixei no chão enquanto pegava leite para tentar fazê-la ingerir alguma coisa. Logo se deitou no chão.

23:00h - Levei-a para a cama, forrei a cama com 2 mantas quentinhas e ela fez uma única tentativa de sair e se esconder debaixo da cama. Mudei de quarto, onde ela já não conseguiria sair da cama. Sequer tentou. Nas vezes em que precisei levantar ela miava, como que reclamando da minha ausência. Miava alto e forte.
Durante toda a madrugada apresentou espasmos ora na cabeça, ora no tronco.

Hoje, Quinta-feira, 17.01.2013:

05:00h - Voltei para o meu quarto com ela, e ela já apresentava um quadro semi-comatoso e eliminava uma secreção transparente, com odor adocicado. O hálito urêmico sumiu. Midríase.

08:00h - Midríase completa, coma, reflexos ausentes, apresentando tremores de patas posteriores. Persistia a eliminação de muco. Ausência de hálito urêmico.

08:30h - Fiz contacto com a veterinária, sem sucesso. De vez em quando Mimim emitia uns pequenos sons, a respiração fraca e mais regular. Pego um cotonete e fico banhando a boquinha dela. Em duas vezes ela lambe os beiços. Olhos abertos e midriáticos.

09:30h - A veterinária retorna a ligação e sugere a aplicação de corticóide. Recuso. 10 minutos após Mimim começa com uns espasmos semelhantes a pequenos rugidos de leão, abrindo totalmente a boca, como se querendo buscar o ar, e emitindo um pequeno som. Aos pouquinhos esses espasmos cessam e ela passa a ter uma respiração muito fraca e a intervalos grandes.

09:45h - Mantenho a minha mão no peito dela, percebo que a respiração fica cada vez mais fraca e espaçada. Por último surge uma descarga energética bem típica dos gatos quando se espreguiçam, aquela em que todo o corpo vibra, e após isto, Mimim dá o último suspiro.


Yasmim Marilyn Fitzgerald foi adotada junto com uma gatinha da mesma ninhada, as duas únicas sobreviventes de uma gata mal cuidada e naquela 4ª ninhada apresentando depressão pós-parto. Presenciei a gata-mãe se levantando assim que a outra gatinha agarrava na teta dela. A gata-mãe se levantava e começava a andar, e a filhotinha aguentava o que podia e mamava o que conseguia. Mimim não se dava ao trabalho. Quando adotei a filhotinha mais aguerrida, trouxe Mimim porque achei que uma não sobreviveria sem a outra. A filhotinha mais aguerrida, Habiba, faleceu em 2008 com leucemia e Mimim aguentou firme até hoje.
Em janeiro de 2012 cheguei em casa depois de passar 5 meses fora (deixei um casal de amigos aqui em casa tomando conta de Mimim e tanto ela quanto eles se afeiçoaram muito uns aos outros), mas logo percebi que Mimim estava um pouco triste e pedindo muita água (ela só gostava de água corrente).
Levei ao veterinário e eu fui considerada u´a mãe histérica, pois clinicamente Mimim estava ótima. Mesmo assim pedi para fazermos os exames, pois Mimim nunca tinha sido avaliada com bioquímica. O resultado nos surpreendeu: ela estava com insuficiência renal crônica. Fizemos a Ultrassonografia e o diagnóstico foi confirmado com o agravante de que quase não havia tecido cortical. A US de novembro de 2012 mostrou piora do quadro anatômico.
Mimim se adaptou muito bem à ração renal seca e chegou a desenvolver paladar pela ração renal úmida. Por último pedia muita água e por sorte eu estava mais em casa, disponível pra ela. Foi perdendo o apetite até que há 5 dias parou de comer a ração seca e ficou só com a ração úmida. E pedia muita água, mas quase não bebia.
Teve apenas um episódio relevante de vômito dois dias antes de falecer, sem contar o de ontem, após a hipervolemia.
Li que os gatos procuram se enfurnar quando sabem que vão morrer. Li que eles fazem isso para não serem vistos por seus donos e não causarem sofrimento a eles. Lenda ou não, Mimim bem que tentou se esconder de mim. Mas por último, e pra minha triste alegria, até miou durante a noite, quando eu precisei levantar duas ou três vezes, como que pedindo que eu a não deixasse.
Como eu deixaria essa filha peluda, esse amor do meu coração, essa criaturinha super importante em minha vida?
Agora espero que não seja lenda que eu possa me reencontrar com ela quando chegar a minha vez de ir para o céu dos humanos.
Quando vi o filme "Nosso Lar" a coisa que mais encantou foi a presença de um cão no grupamento familiar.
RIP, linda e amada Mimim.