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quinta-feira, dezembro 11, 2014

Orgânico, Gluten Free, Guilt Free

Dia nublado, friozinho, bom pra ir pro estado vizinho fazer mercado. Se eu assentar praça no Brasil já sei que vou dar um jeito de criar galinhas e cabras e ter uma horta. 
Aqui na terra do business nada é mais incentivado a viver sob rigorosa patrulha que a comida. Come-se muito mal e muito bem por aqui, só depende do freguês.
O fato é que um mercado enorme como esse pede, suplica, implora pra ser segmentado. Assim, olho nos rótulos, pois é mais importante saber o que NÃO tem. Exemplo: a granola "go raw", já traz uma faixa no pacote dizendo 'NO AGAVE', este, uma das inúmeras fontes de açúcar usadas por aqui, que do mesmo jeito que é recomendada, é rejeitada, como é, aliás, tudo em nossa pouco pacata trajetória existencial-estomacal.
Junto com o agave, está o xarope de milho, que já teve os seus dias de glória, mas hoje é afugentado mais que o diabo pela cruz. Mas vamos em frente: Gluten Free, Wheat Free, Nut Free, No GMOs, No Trans Fats, No Cholesterol. Ou seja. Comer "No Guilt"  é que são elas. 
No reino animal a coisa piora ainda um pouco. Trata-se de saber que o boi e a galinha (e o porco) foram alimentados com produtos naturais, não receberam antibióticos ou hormônios e tiveram um manejo familiar. Sim, Quanto mais o produto for do pequeno proprietário, mais o rótulo ganha status.
Dizer que um produto é 100% orgânico já não é suficiente. Você tem que detalhar que ele não foi processado, multi-processado e nem recebeu uma dosezinha extra de qualquer elemento químico que no momento esteja vivendo a sua fase maldita.
A onda agora é que as sementes estejam organicamente germinadas (sprouted). A onda é o leite de amêndoas - por sinal, bem gostoso - mas não o leite que é vendido nas embalagens longa vida. Você tem que comprar as amêndoas, lavá-las e deixá-las de molho até que fiquem livres de tooooodo aquele agrotóxico. Aí você põe as amêndoas para torrar por mais ou menos umas 12 horas, e só assim você pode falar em algo 100% orgânico. Bem, 100% orgânico no caso citado, seria você ter uma amendoeira no quintal.
O fato é que temos aqui, como aí, as prateleiras com os legumes orgânicos. E o que vemos? Cenouricas magricelas e pálidas; algumas raízes que de tão deformadas e feias, sequer imaginamos o que sejam; cebolitas e batatitas anãs.
Ao lado, as prateleiras dos que não se apregoam orgânicos reluzem de legumes rechonchudos e coloridos.
Se fossemos comer com os olhos, engoliríamos todos os agrotóxicos e os geneticamente modificados do planeta, pois sua beleza põe mesa.
O fato é que minha amiga tem fornecedores de frangos, de carne bovina, de frutas e de legumes, e seus filhos um dia vão agradecer a ela por livrá-los de tanta química. Mas será que daqui a 10 anos esses meninos encontrarão um mercado com boas e honestas opções?
Sinceramente, não creio.
Creio em 2 cabras, 1 bode, 3 ou 4 galinhas e uma horta.
O resto é pra ler o rótulo com espírito de Holmes e alma de Watson. Ou, e é o que a maioria faz, entregar pra Deus.

quinta-feira, dezembro 04, 2014

Gerundiando

A Via-Crucis num Call Center de empresa de telefonia (vão vendo) só é comparável a um parto na roça com parteira fumante e não tomante de banho.
Às 10:29 falo com JACIANE que me passa pra Patrícia e esta pra NIEDJA.
- Olha, quem sou eu pra falar de nomes esdrúxulos, né? Agora, se eu sou dona de um Call Center, eu ia criar nomes de guerra, viu? Tudo nomezinho facinho: Maria, João, José, Pedro, Paulo, Ana, Vera, Sonia... O tempo (e dinheiro) que se perde pedindo à pessoa pra repetir o nome num atendimento via fone é imenso. Nem vou falar na paciência e, subsequentemente, no desgosto de se ver tão (mal) acompanhada em matéria de nome "diferente".
Pois até que entabulo uma conversa bem maneira com a Niedja, que me ensina que a culpa é dos russos (pelo sotaque da moça, penso logo no pai dela, um nordestino bem arretado, bem comunista, e bem ruim de entender que Nadia nada a tem a ver com Niedja).
Niedja então me encaminha para o setor de Análise de Fraude onde receberei um protocolo.
Logo nesse setor, tão crítico, sem-Orr!, alguém esbarra em alguma coisa e puft, a ligação volta ao menu inicial.
Sou atendida pelo Igor (vão vendo se isso não é uma conspiração comunista?!) que ficou falando assim: entendo, só mais um momento, me informa o n. do telefone para eu estar te ajudando. Depois de gerundiar bastante, me deixou no ar. Isso porque os seres do Call Center são incrédulos, claro!, tudo comunista!!! Ele não acreditou que eu JÁ estava sendo atendida pelo setor de Análise de Fraude e quis começar tudo outra vez.
A ligação caiu.
- Olha. Tem certas horas que a ligação cair é até uma bênção, viram? Não sei que lei que tem no Universo que todos os call centers tem que estar com todos os áudios abertos e que todos os fios desencapados do mundo tem que "estar passando" por aquele tráfego naquele exato momento! Mas deve ter uma lei no Universo, sim. Uma lei bem safada e co-mu-nis-ta!
E tive que ligar novamente, oras!
Às 10:58 atende a Cláudia (olha aí um nome normal, fácil de entender: só não digo o mesmo do sotaque da moça. Deve haver uma lei no Universo co-mu-nis-ta e ateu que diga: só gente com sotaque carregado é que pode trabalhar em call center, visse?)..
Cláudia me passa pra Hosana, cujo nome eu elogio (sim, hoje não estou com nenhum miasma comunista me pespegando - ai... agora me deu uma saudade do João Ubaldo Ribeiro...), e deixo a moça contente nas alturas sem cessar!
Hosana me passa pro Luciano, já são 11:33, tenho compromisso longe de casa às 12:30!
Luciano já chega gerundiando: vou estar analisando o número que a Sra. desconhece.
Ok.
Nesse momento, aproveito para "estar limpando" a minha bunda, pois a lei dos semelhantes é tiro e queda, fez meus intestinos funcionarem, me perdoem a deselegância.
Fico à mercê do Luciano por uns 10 minutos, quando de repente, assim meio que tipo "uêpa! vamu trabalhar!", ele começa a fazer perguntas notoriamente investigativas (a criminosa comunista safada sou eu, no caso).
A Sra. conhece:
Maria de Lourdes Gomes?
Marta do Nascimento Santos?
Maria das Graças Depolo?
Bem, eu digo que conheço uma Maria de Lourdes Gomes, mãe do meu cunhado, mas ela mora em SP! Logo depois me lembrei que ela é Maria de Lourdes Filgueiras Henriques Gomes (preferi me calar).
Às 11:50 entra quem estava faltando: a musiquiiiiiinhaaaaaaaa!
- Momento de pânico: Luciano me pergunta "se a ligação cair pra que número eu posso ligar?".
Digo a vocês que foi uma lenha ele entender duas coisas:
1) o código de área daqui tem 3 dígitos
2) o número de celular daqui SÓ TEM 7 digitos e não começa com 9!!!!!
Às 11:53 o Luciano me diz (aleluia! hosana! jaciane! niedja!) as esperadas palavras: vou cancelar a linha, desconsiderar o débito (sim, o comunista fraudador já tava falando, e é muito!!!) e, ao ser perguntado, disse que automaticamente meu CPF está bloqueado para novos contratos.
Aleluia! Hosana nas Alturas! Jaciane e Niedja Sem Cessar!
Se algum comunista-safado estiver pensando em usar meu CPF na Oi, vai se ferrar bo-ni-to!
N. do Protocolo: xxxxxxxxxxxxx
Finalizado às 11:57 daqui.

Milagres Acontecem

Milagres acontecem, e nem estou falando apenas no modo sardônico, não agora.
Primeiro milagre: alguém De ou EM Araruama, usando meus dados pessoais, fez um contrato de celular na Oi. Tenho um excelente amigo q trabalha na Oi, e assim termina a minha relação com a Oi.
Segundo milagre: orientada por esse amigo, liguei agorinha meRmo prum fixo da Oi.
Terceiro milagre: fui devidamente atendida e encaminhada para o setor de xxxxxgência cadastral. Amigos. O que é a pessoa estar ligando pro BR na madrugada do BR e não conseguir entender a primeira de duas palavras faladas com sotaque nortista? Emergência? Contingência? Excelência? Excrescência? Demência? (Opa, tá esquentando, começa com D!!!).
Quarto milagre: a ligação não caiu.
Quinto milagre: entendi! Divergência Cadastral! Divergência, sem-orrrrr da glória, como não pensei nisso?
Sabotagem do milagre, parágrafo único: o horário de atendimento da Divergência Cadastral é de 8-21.
Sexto milagre: a linha já está bloqueada!!!
Esse meu amigo é ou não é o tal?