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sexta-feira, março 29, 2013

Retiro, Retirement

É o olho que faz o horizonte (R. W. Emerson).

A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.
Eduardo Galeano



Depois de ver o mundo com as mãos, as laboriosas mãos que me deram a sobrevivência e o sustento precários, essas mãos agora fazem uma concha diante dos olhos, e não quero saber do passado, não quero saber do presente, só me interesso pelo futuro, se é que haverá um.

O horizonte e seu fascínio. O horizonte e seus mistérios. O horizonte e seu terror.

Peço um tempo à mesmice da vida e dou um salto infinitamente maior que as pernas. Um salto sem qualidade aparente, um salto destrambelhado, como o do covarde que é empurrado para fora do avião, sem mais memória alguma do paraquedas. Eu sou o covarde que pula e o covarde que empurra.

Meu retiro é transitando por fronteiras, medindo quem sou e como sou de dentro pra fora, sem parâmetro algum. Convivendo com frustrações e raivas muitas, plurais, enormes, tensas, assustadoras. O medo de perder o controle me ronda, mas nada me faz recuar, nem essa possibilidade tão viável de me perder muito antes de me encontrar.

Começo tendo que encarar excessos. De bagagem, de inutilidades, de tudo um pouco. Porém, carrego uma bagagem ainda necessária porque não me passa pela cabeça viajar como uma peregrina disposta a se estrupiar. Gosto de pilotar um carro de boa linhagem, gosto bem de uma cama quentinha. Só quem tem muito é que pode abdicar franciscanamente de tudo. Eu, não. Enquanto isso ou aquilo puderem me servir, vou mantendo, vou segurando e vou querendo muito muito mais! 

Meu retiro é no silêncio e no vagar das coisas. Nas pequenas leis vitais. Nos espaços na estrada, nos limites de velocidade. No acesso razoável aos bens de consumo. Me retiro da loucura pelo outro em favor da loucura por mim mesma. Se estou tensa, não é porque tenho compromissos, horários e satisfação a dar ao outro. Estou tensa comigo, com milhares de sementes que germinaram pra dentro, com esse sufocamento que minhas emoções, sempre sob controle, oh!

Meu retiro é dentro de minha vestimenta preferida, de 4 rodas, me levando para onde eu quiser ir, com uma direção leve e automatizada, deixando meus reflexos em repouso, pois enquanto isso há muito o que resolver em todas esses cruzamentos, decisões e riscos, tentativa e erro. Porque mesmo com tanto suporte tecnológico, não é de segurança que eu estou falando.

Não, não é coragem o que me move. O que me move é o medo de não realizar esse mínimo.