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quinta-feira, dezembro 11, 2014

Orgânico, Gluten Free, Guilt Free

Dia nublado, friozinho, bom pra ir pro estado vizinho fazer mercado. Se eu assentar praça no Brasil já sei que vou dar um jeito de criar galinhas e cabras e ter uma horta. 
Aqui na terra do business nada é mais incentivado a viver sob rigorosa patrulha que a comida. Come-se muito mal e muito bem por aqui, só depende do freguês.
O fato é que um mercado enorme como esse pede, suplica, implora pra ser segmentado. Assim, olho nos rótulos, pois é mais importante saber o que NÃO tem. Exemplo: a granola "go raw", já traz uma faixa no pacote dizendo 'NO AGAVE', este, uma das inúmeras fontes de açúcar usadas por aqui, que do mesmo jeito que é recomendada, é rejeitada, como é, aliás, tudo em nossa pouco pacata trajetória existencial-estomacal.
Junto com o agave, está o xarope de milho, que já teve os seus dias de glória, mas hoje é afugentado mais que o diabo pela cruz. Mas vamos em frente: Gluten Free, Wheat Free, Nut Free, No GMOs, No Trans Fats, No Cholesterol. Ou seja. Comer "No Guilt"  é que são elas. 
No reino animal a coisa piora ainda um pouco. Trata-se de saber que o boi e a galinha (e o porco) foram alimentados com produtos naturais, não receberam antibióticos ou hormônios e tiveram um manejo familiar. Sim, Quanto mais o produto for do pequeno proprietário, mais o rótulo ganha status.
Dizer que um produto é 100% orgânico já não é suficiente. Você tem que detalhar que ele não foi processado, multi-processado e nem recebeu uma dosezinha extra de qualquer elemento químico que no momento esteja vivendo a sua fase maldita.
A onda agora é que as sementes estejam organicamente germinadas (sprouted). A onda é o leite de amêndoas - por sinal, bem gostoso - mas não o leite que é vendido nas embalagens longa vida. Você tem que comprar as amêndoas, lavá-las e deixá-las de molho até que fiquem livres de tooooodo aquele agrotóxico. Aí você põe as amêndoas para torrar por mais ou menos umas 12 horas, e só assim você pode falar em algo 100% orgânico. Bem, 100% orgânico no caso citado, seria você ter uma amendoeira no quintal.
O fato é que temos aqui, como aí, as prateleiras com os legumes orgânicos. E o que vemos? Cenouricas magricelas e pálidas; algumas raízes que de tão deformadas e feias, sequer imaginamos o que sejam; cebolitas e batatitas anãs.
Ao lado, as prateleiras dos que não se apregoam orgânicos reluzem de legumes rechonchudos e coloridos.
Se fossemos comer com os olhos, engoliríamos todos os agrotóxicos e os geneticamente modificados do planeta, pois sua beleza põe mesa.
O fato é que minha amiga tem fornecedores de frangos, de carne bovina, de frutas e de legumes, e seus filhos um dia vão agradecer a ela por livrá-los de tanta química. Mas será que daqui a 10 anos esses meninos encontrarão um mercado com boas e honestas opções?
Sinceramente, não creio.
Creio em 2 cabras, 1 bode, 3 ou 4 galinhas e uma horta.
O resto é pra ler o rótulo com espírito de Holmes e alma de Watson. Ou, e é o que a maioria faz, entregar pra Deus.

quinta-feira, dezembro 04, 2014

Gerundiando

A Via-Crucis num Call Center de empresa de telefonia (vão vendo) só é comparável a um parto na roça com parteira fumante e não tomante de banho.
Às 10:29 falo com JACIANE que me passa pra Patrícia e esta pra NIEDJA.
- Olha, quem sou eu pra falar de nomes esdrúxulos, né? Agora, se eu sou dona de um Call Center, eu ia criar nomes de guerra, viu? Tudo nomezinho facinho: Maria, João, José, Pedro, Paulo, Ana, Vera, Sonia... O tempo (e dinheiro) que se perde pedindo à pessoa pra repetir o nome num atendimento via fone é imenso. Nem vou falar na paciência e, subsequentemente, no desgosto de se ver tão (mal) acompanhada em matéria de nome "diferente".
Pois até que entabulo uma conversa bem maneira com a Niedja, que me ensina que a culpa é dos russos (pelo sotaque da moça, penso logo no pai dela, um nordestino bem arretado, bem comunista, e bem ruim de entender que Nadia nada a tem a ver com Niedja).
Niedja então me encaminha para o setor de Análise de Fraude onde receberei um protocolo.
Logo nesse setor, tão crítico, sem-Orr!, alguém esbarra em alguma coisa e puft, a ligação volta ao menu inicial.
Sou atendida pelo Igor (vão vendo se isso não é uma conspiração comunista?!) que ficou falando assim: entendo, só mais um momento, me informa o n. do telefone para eu estar te ajudando. Depois de gerundiar bastante, me deixou no ar. Isso porque os seres do Call Center são incrédulos, claro!, tudo comunista!!! Ele não acreditou que eu JÁ estava sendo atendida pelo setor de Análise de Fraude e quis começar tudo outra vez.
A ligação caiu.
- Olha. Tem certas horas que a ligação cair é até uma bênção, viram? Não sei que lei que tem no Universo que todos os call centers tem que estar com todos os áudios abertos e que todos os fios desencapados do mundo tem que "estar passando" por aquele tráfego naquele exato momento! Mas deve ter uma lei no Universo, sim. Uma lei bem safada e co-mu-nis-ta!
E tive que ligar novamente, oras!
Às 10:58 atende a Cláudia (olha aí um nome normal, fácil de entender: só não digo o mesmo do sotaque da moça. Deve haver uma lei no Universo co-mu-nis-ta e ateu que diga: só gente com sotaque carregado é que pode trabalhar em call center, visse?)..
Cláudia me passa pra Hosana, cujo nome eu elogio (sim, hoje não estou com nenhum miasma comunista me pespegando - ai... agora me deu uma saudade do João Ubaldo Ribeiro...), e deixo a moça contente nas alturas sem cessar!
Hosana me passa pro Luciano, já são 11:33, tenho compromisso longe de casa às 12:30!
Luciano já chega gerundiando: vou estar analisando o número que a Sra. desconhece.
Ok.
Nesse momento, aproveito para "estar limpando" a minha bunda, pois a lei dos semelhantes é tiro e queda, fez meus intestinos funcionarem, me perdoem a deselegância.
Fico à mercê do Luciano por uns 10 minutos, quando de repente, assim meio que tipo "uêpa! vamu trabalhar!", ele começa a fazer perguntas notoriamente investigativas (a criminosa comunista safada sou eu, no caso).
A Sra. conhece:
Maria de Lourdes Gomes?
Marta do Nascimento Santos?
Maria das Graças Depolo?
Bem, eu digo que conheço uma Maria de Lourdes Gomes, mãe do meu cunhado, mas ela mora em SP! Logo depois me lembrei que ela é Maria de Lourdes Filgueiras Henriques Gomes (preferi me calar).
Às 11:50 entra quem estava faltando: a musiquiiiiiinhaaaaaaaa!
- Momento de pânico: Luciano me pergunta "se a ligação cair pra que número eu posso ligar?".
Digo a vocês que foi uma lenha ele entender duas coisas:
1) o código de área daqui tem 3 dígitos
2) o número de celular daqui SÓ TEM 7 digitos e não começa com 9!!!!!
Às 11:53 o Luciano me diz (aleluia! hosana! jaciane! niedja!) as esperadas palavras: vou cancelar a linha, desconsiderar o débito (sim, o comunista fraudador já tava falando, e é muito!!!) e, ao ser perguntado, disse que automaticamente meu CPF está bloqueado para novos contratos.
Aleluia! Hosana nas Alturas! Jaciane e Niedja Sem Cessar!
Se algum comunista-safado estiver pensando em usar meu CPF na Oi, vai se ferrar bo-ni-to!
N. do Protocolo: xxxxxxxxxxxxx
Finalizado às 11:57 daqui.

Milagres Acontecem

Milagres acontecem, e nem estou falando apenas no modo sardônico, não agora.
Primeiro milagre: alguém De ou EM Araruama, usando meus dados pessoais, fez um contrato de celular na Oi. Tenho um excelente amigo q trabalha na Oi, e assim termina a minha relação com a Oi.
Segundo milagre: orientada por esse amigo, liguei agorinha meRmo prum fixo da Oi.
Terceiro milagre: fui devidamente atendida e encaminhada para o setor de xxxxxgência cadastral. Amigos. O que é a pessoa estar ligando pro BR na madrugada do BR e não conseguir entender a primeira de duas palavras faladas com sotaque nortista? Emergência? Contingência? Excelência? Excrescência? Demência? (Opa, tá esquentando, começa com D!!!).
Quarto milagre: a ligação não caiu.
Quinto milagre: entendi! Divergência Cadastral! Divergência, sem-orrrrr da glória, como não pensei nisso?
Sabotagem do milagre, parágrafo único: o horário de atendimento da Divergência Cadastral é de 8-21.
Sexto milagre: a linha já está bloqueada!!!
Esse meu amigo é ou não é o tal?

sábado, novembro 22, 2014

Mundo Made In Java

Tem horas que a gente acredita que D´us virou as costas e foi bufar num cantinho do céu e tem horas que a gente tem certeza de que  D´us largou mesmo tudo de mão.
D´us largou mesmo de mão e não está tomando qualquer conhecimento do fato de que o mundo inteiro entregou suas commodities nas mãos de Java.
Tirando umas raras raríssimas exceções - e estas referentes aos bens intangíveis, como é o caso da invenção, descoberta ou criação de produtos e serviços - está tudo nas mãos de Java.
Todos conhecem o meu sentimento por Java, que admito aqui sem qualquer problema, é parcial e injusto, mas é o que temos para o momento com base em experiência pessoal.
Eu gostaria de estar agora num mega mercado na Alemanha só pra fuxicar as etiquetas. Quem estiver por lá pode confirmar que alguns países como a citada Alemanha, e como a Inglaterra e talvez França, têm lá seus pruridos e disfarçam Java em Paquistan, Vietnan, Honduras, India, o que seja,  o fato é que a Ásia é considerada a plataforma industrial do mundo, por aí vocês vão vendo. Java superou EUA e Japão, mas eu digo, como fuxicadeira de etiquetas que sou, entre 100 "Made in Java" não encontro nenhum "Made in Japan" e encontro alguma coisa quinquilharinesca "Made in USA". Não peçam a minha opinião sobre quinquilharias feitas nos EUA pois eu vou duvidar seriamente da nacionalidade desses operários.
Também não me perguntem se concordo com a declaração da OMC (organização mundial do comércio) colocando o Brasil como o 5o. maior fornecedor de commodities (matéria-prima) para Java. Como sou do contra, também não vou concordar com a informação dessa mesma OMC de que o Brasil é o 12o. maior importador de recursos naturais do mundo. Não concordo com esse 12o. lugar, me julguem.
Ninguém nunca sabe onde quero chegar quando começo uma lenga-lenga como essa aí de cima. Em geral quero chegar num lugar bem insosso e moluscal (úia! ato falho numa hora dessas?).
Ontem resolvi comprar um kit de roupa de cama feita de flanela, eis que as temperaturas aqui só despencam - pra contrariar, ontem à noite comecei a sentir o maior calorão, fui olhar a temperatura, estávamos a 10+.
Ao examinar aquele pacote com 2 lençóis e duas fronhas minha imaginação voou para lugares não muito agradáveis onde os javaneses fazem suas produções, podendo ser em qualquer lugar do planeta, mesmo aí do seu lado, viu? E minha mente retardada se fixou em porões de navios que vivem em águas internacionais, e minha mente quase ficou doentia quando imaginei "Sem-Orrr, que horas que esse pessoal lava as mãos?".
Com os dedos em pinça peguei o kit e botei na máquina de lavar, com água quente e sabão poderoso, depois botei na máquina de secar a uns 60 ou 70 graus, e só assim considerei que o kit estava livre de mãos pouco lavadas.
É complicado, amigos, é complicado.
Você quer colocar a sua cabeça num travesseiro vestido numa fronha que tenha tido uma procedência que não altere o seu estado mental, e não vê outra alternativa senão se tornar um maníaco e lavar, enxaguar, secar, esticar coisas que estejam talvez mais limpas que a cama onde serão usados, mas a sua mente não te deixa relaxar, a sua imaginação desfila diante de seus olhos as lágrimas, o suór e o sangue, a energia, e tudo o que além de fibras e material têxtil entram na composição da manufatura de um artigo singelo como este, um kit de dormir.
Para acalmar seu ânimo você vai pra cozinha e prepara um chá e tudo à sua volta, tudo, absolutamente tudo, é Made In Java, tirando o chá propriamente dito, que é de Nova Jersey. Péra! Plantações de chá em Nova Jersey?

"A história do chá começa em 2737 a.c., na China, com a lenda de Chen Nung. Em 1862 chegou à Europa como uma garantia de saúde e longevidade. Em 1890, o chá entrou na vida de Sir Thomas Lipton que passou a comercializá-lo em Glasgow, Escócia, ficando conhecido em toda a Europa..."

E o que mais me entristece - sim, o tom de hoje não está nada bom, mas isso não quer dizer absolutamente nada, só diz que é impossível falar sobre todas as coisas ruins do mundo com o melhor dos bons humores. Nem sempre é possível. Pois bem, o que mais me entristece é que a qualidade das coisas não é boa. E tende a piorar, já que o mercado aceita esse nível de qualidade.

Ninguém é obrigado a comprar nada made in Java, mas tem que estar de corpo e alma preparados pra morrer de frio e cozinhar numa fogueira no quintal.
Diante dessa cena descrita aí em cima, minha mente distorcida trouxe a imagem de Cristina Kirchner, a presidente da Arghhhhentina, numa foto toda sorridente (se é que aquilo é sorriso e não um esgar pós-cirúrgico), ao lado do presidente Ji Xinping, cuja legenda dizia "Java compra a dívida externa argentina".
Já viram esse filme em algum país da América Latina?
De uma tacada só  em junho de 2014 Java assinou 15 acordos com o Brasil, 19 com a Arghhhhhentina, 38 com a Venezuela e 30 com Cuba!

Senhoras e senhores, com licença que eu vou ali pro cantinho da sala bufar.

quinta-feira, novembro 13, 2014

O PANGA-MATUSA

Olha aí o PANGA-MATUSA todo pimpão em frente à casa da professora.
Antes de chegar na casa da professora havia feito uma verdadeira Odisséia, levando o PANGA-MATUSA pra oficina e passando o maior frio. Fiquei lá esperando eles resolverem o problema da luzinha "pitanga" acesa enquanto fazia meu dever de casa.
Resolveram.
Só que não.
Assim que entrei no carro toda contente com uma solução não tão rápida, mas afinal esperava eu, eficiente, vi que a luz acendeu e não apagou.
Pergunta: mas será impossíver?????
Saio do carro, enfrento novamente toda aquela friaca de -7 graus e balbucio pro recepcionista "Bial, a luz continua acesa!".
Verdade seja dita. O recepcionista poderia muito bem ser o próprio Matusalém, vejam bem, o cara é encarquilhado. Ficou  vermelhão, pegou a chave e voltou com o carro lá pra trás onde fazem as lambanças, quer dizer, o serviço.
Em menos de 5 minutos estava ele de volta com o problema resolvido (o problema do PANGA-MATUSA, pq o dele próprio, só piorava - envelhecia a olhos vistos, uma coisa bem impreNsionante!).
Eu, a Idiota-mór, ainda querendo fazer graça digo: pelo menos não é nada assim tão preocupante, né?
Uêpa!
Matusalém apenas responde com ar de quem já morreu 20 vezes entre uma e outra ida lá atrás com o PANGA-MATUSA: hãn, hãn.
Cara! Estou tão preocupada com esse hãn, hãn! Mas muito, hein? Muito preocupada!!!
O fato é que peguei o PANGA-MATUSA e fui direto comprar um par de botas missourianas pq as que eu calçava pareciam 2 tijolos de gelo, quero dizer, um em cada pé.
Tarefa não fácil, não fácil.
As botas tem que ter uma forração mínima, não podem ter salto, muito menos salto plataforma, ô, gentem! Não é que escolhi um par que tinha salto plataforma? Quédizê. Vocês sabem que eu bufo e emito sons não muito animadores aos mínimos esforços, e afinal, tinha que experimentar as botas. Sem-Orrr da glória! Como bufei!!!
Mas ó. Comprei umas tetéias que vão aguentar 2 ou 3 camadas de meias de lã e ainda assim não apertarão meus dedinhos. Agora. Que lei é essa que tem no universo que se um pé calça bem o outro se vinga violentamente? O pé direito calçou que foi uma beleza. O esquerdo, bem, o esquerdo me fez tirar o cachecol, me encharcar de suór e quase que pedir um alicate e uma alavanca industriais pra terminar de calçar. Que coisa, Sem-Orrrrr!
Estou me queixando? Claro que não!
Estou é bem contente por que:
1) Botas que aquecem o pé sem apertar é uma graça dos céus
2) Chegou a conta de luz - nada demais
3) Adoro chegar em casa e encontrar tudo quentinho e com cheirinho de casa americana (pimenta)
4) Vou fazer uma jantinha agora.


A professora de inglês é uma graça! Mora numa casa bem jeitosa, mas não sou boba de ficar tirando foto da casa da professora, né? Tirei da árvore em frente à casa da professora e já que o PANGA-MATUSA tava por ali, saiu na foto, ué! E não é que ficou bem na foto?


domingo, novembro 09, 2014

O Outono De Nossas Vidas e Outras Metáforas

Começo declarando minha enorme implicância com os chavões relacionados à maior idade. Na Espanha eles resolveram muito bem essa coisa, e genericamente as idades são divididas entre Mayores e Menores. Seria bem estranho aos espanhóis coisas como "melhor idade", "feliz idade", e daí pra pior. Mayores e Menores, ficam assim definidas as idades sem metáforas tolas.

Acho lindo dizer que a primeira parte do envelhecimento corresponde ao outono de nossas vidas. Falta-me um conhecimento climático mais completo e prático das estações do ano, como são de fato definidas em algumas partes do planeta, para fazer as demais conjugações - mas vamos ver!

Conhecemos primavera, verão, calor, fogão, braseiro, fornalha, inferno, forno brando e novamente primavera. Deve ser por isso (favor não me apedrejar) que certos paises ao sul do Trópico de Cancer vivem precariamente os ciclos da vida, creio mesmo que por impedimento climático. Não chego ao ponto de dizer que amadurecimento e capacidade de ver a realidade, no caso, de ver além da realidade, estejam direta ou indiretamente ligados à permanência de altas temperaturas durante a maior parte do tempo, levando as pessoas a um despojamento de roupas e de coberturas teóricas para o seu comportamento. Não. Os extremos geram extremos, porém não sejamos levianos em fazer associações fáceis.

O fato é que não conhecendo e não podendo desfrutar dos ciclos e ritmos da terra, muitos de nós ficamos privados de mergulhar em momentos de intensa beleza, e, ouso dizer, ficamos meio sem ritmo na vida.

O outono é, talvez, o mais belo de todos os ciclos da terra.

É inacreditável que algo na natureza que esteja tão próximo de se despojar de flores, frutos e folhas alcance níveis tão elevados de beleza! 

Como é possível que algo já tão perto da inação, de uma quase morte, produza efeitos visuais tão espetaculares? A inclinação do eixo da terra e a posição do sol em relação a ela geram fenômenos de luz e brilho, difíceis de encontrar em outra época.

Estamos no outono de nossas vidas e nem sabíamos o quanto pode ser belo e luminoso! Passa rapidamente, mas como é belo!


sábado, novembro 08, 2014

Redondeza Redonda

Um camarada chamado Rudolf Steiner,  parêntesis:

Nos séculos XIX e XX era possível ser polivalente como esse Rudolf Steiner (chega a ser irritante, mas, bom pra ele que naquela época não tinha FB). Vejam bem: em 64 anos de vida foi filósofo, educador, artista, criador da Antroposofia e da Pedagogia Waldorf, da agricultura biodinâmica, da medicina antroposófica e da euritmia. Ainda nos informa a wikipedia que "seus interesses eram variados (ohhhh!), pois se dedicou à arquitetura, arte, drama, literatura, matemática, ciência e religião".

Não admira que Freud tenha se iniciado na carreira estudando os órgãos sexuais das enguias, que interessante devia ser, hein? E nem vou falar da psicanálise, vou falar da literatura e de como ele integrou as historietas infantis e a mitologia grega e, como escrevia bem o tal do Freud! Jung, outro big boss da psicanálise,  deu um passo à frente na integração da ciência com inúmeros outros conhecimentos considerados "não científicos", como a religião e a sincronicidade, por exemplo. 

Fecha parêntesis.

Rudolf Steiner inventou a Pedagogia Waldorf, algo tão integrado que, estou falando de um modo bem superficial, se preocupou até com a supressão das quinas. Desde o mobiliário até detalhes menores Steiner propôs um arredondamento do mundo.

Lembrei dele há pouco quando caminhava por minha redondeza e percebi que ela é redonda. Apesar das esquinas, dos ângulos retos etc e tal, tem uma redondice nela, um arredondamento que fica bastante claro em alguns endereços que não são mais que ruas sem saída bem arredondadas.

Caminhando por essa redondeza me senti (como das outras caminhadas) numa cidadezinha pequena da França, qualquer uma, cheia de telhados ao longe.

Falando de antigamente, o que muito distinguia os cavalheiros e damas eram justamente seus chapéus, seus telhados. Um amontoado de damas e cavalheiros nos dava uma visão de coisa harmônica e arredondada em virtude de seus chapéus/telhados.

Difícil explicar como telhados angulosos fazem esse efeito de arredondar a minha redondeza, mas é assim que a tenho percebido, talvez porque, oh!, muito oh!, a terra seja redonda, né?


domingo, novembro 02, 2014

Como Encher Um Pneu Em 20 Minutos Ou Mais

Desde ontem à noite quando saí pro niver da Angelique o carro me avisou no painel que algum pneu estava baixo.
Não dei tanta importância porque a direção estava ok. Mas fiquei com aquilo na cabeça.
Hoje verifiquei com meus própreos olhos que um dos pneus estava realmente baixo e saí resolvida a me entender de uma vez por todas com essa coestão tão simples de resolver nos postos de gasolina brasileiros.
Parei num posto bem chulé lá na periferia do Plaza e pus mãos à obra. Não sei o que ando fazendo com meus neurônios que ainda não criei um protocolo para tais situações. Fiz o passo-a-passo mais idiota de todos: desatarrachei o pino do pneu, catei a mangueira e tentei fazer a manobra de encaixar o bico da mangueira no pino do pneu. Não é uma tarefa lá muito fácil. Acho mesmo que as mentes brilhantes que inventaram até cortador de maçã poderiam se dedicar ao tema, já que não são apenas os homens que lidam com essas minúcias de carro, péra! Esse assunto já deveria ter deixado de ser há muito tempo um item do repertório masculino, mas a verdade é bem outra. A maioria dos homens americanos resolve essas coisas na própria garage, eles tem todos os apetrechos e, por conseguinte, suas moléres continuam sem ter com que se preocupar. Mas e as invictas? E as octogenárias que pilotam seus carros com valentia e destemor (e alguma miopia e imprudência)? Essas militantes da solidão feminina, como fazem? Pedem ao neto, será? Bem, well. No caso, nem neto me salvaria, pois careço de um.
Voltando à difícil tarefa de encaixar o pino no bico, digo e redigo que coisa fácil não é. Mas ser difícil não vai impedir a serumana de encher o pneu, isso não! Sem olhar pra máquina engolidora de moedas, a leiga insiste em colocar ar de graça no pneu do seu carro. É possível isso? Uma pessoa razoavelmente letrada achar que tem ar de graça no hemisfério norte? Perálá, né?
Tóooooinnnmmmm! Esse foi o barulho da ficha caindo.
Toca a trocar uma nota por 4 moedas, ficar um certo tempo na dúvida de qual ranhura usar, enfim, pulando bem essa parte, a máquina aceita a propina e começa a estrebuchar. Trata-se de uma máquina híbrida em matéria de ar: tanto pode encher o pneu quanto pode aspirar a farofada no interior do carro. Com extrema cautela segurei na mangueira correta e toca a encher o pneu, pois já se sabe de outro carnaval que a máquina tem um tempo determinado pra funcionar depois de ligada. Pois não é que perdi um tempo enorme desatarrachando o pino do pneu, alguém acredita? Quando fui trocar dinheiro na lojinha espelunca, fiz isso aê que você não está acreditando, isso aê meRmo: botei a capinha de volta no pino!
Não foi fácil desatarrachar o pino, ainda mais com a máquina estrebuchando, justiça seja feita, eu também estava bufando e resfolegando bastante, mas esperaria um pouco mais de boa forma da máquina!
Toda vez que você coloca um bico num pino sem que o encaixe seja perfeito, o efeito desejado pode ser o oposto, ou seja, tentando adaptar o bico ao pino, acabei esvaziando um pouco mais o pneu! Entenderam como foi o final da minha tarde?
Enfim, cheia de brios, bufando e imóvel, consegui imaginar que o pneu estava bem cheio, muito cheio mesmo!
Larguei a mangueira, liguei o carro e ele naquela educação toda "Welcome" etc, me informa "Low Pressure".
Ai, ai, ai, ai, ai!
Nisso a máquina estrebuchando e fazendo muito barulho (o atendente da lojinha-espelunca - quem diria, um posto da British Petroleum! - o atendente simpatia-é-quase-amor sai da lojinha e fica só filmando a cena e fumando um cigarro).
Bacana, né?
A máquina estrebuchando, eu estrebuchando, uma confusão de bico com pino, finalmente achei que o pneu poderia até explodir, abortei o procedimento, voltei a ligar o carro, e sinceramente? PQP! Low Pressure, madama! Low Pressure, fazer o quê?
Voltemos ao princípio de tudo, com a mangueira em punho, pressionando uma espécie de maçaneta acoplada uns 15cm perto do bico, não sei o que aquilo quer dizer, mas aleatoriamente aperto e solto a tal da maçaneta.
Volto a verificar o painel do carro, e, com mil demônios! Low Pressure!
Eu já doida pra sair correndo dali porque entre outras coisas imaginei que a trepidante máquina de ar estava com defeito e/ou eu deveria desligá-la, sei lá, achei que era muita esmola aquele tanto de tempo que ela estava ativa e operante.
Well. Tudo de novo pela terceira vez, até que entendi que o pneu estava cheio e como a máquina continuava trepidante, resolvi encher os outros pneus, vai que?
No momento exato em que coloco o bico no pino de outro pneu, a tal maçaneta fica de barriga pra cima e consigo entender que aquilo ali é um medidor de pressão de pneu! Ahá! Esse momento é inenarrável, o fiat lux, a descoberta da pólvora, a mangueira e a máquina resfolegante sendo desvendadas! Uhuuuu!
Vejo porém que o outro pneu está com 40 unidades. Volto correndo para o pneu baixo porque com certeza ele estava com menos de 20! A máquina trepidando, eu correndo e bufando, uma capinha do pino resolve cair da minha mão e correr pelo cimento, vou-não-vou, entreguei pro destino, e sim, consegui colocar a pressão de 40 no pneu que estava baixo. Quando terminei de colocar e checar alegremente o medidor, a trepidante fornecedora de ar encerra os seus serviços por aquelas 4 moedas.
Entro triunfante no carro e o painel já meio de saco cheio me cumprimenta friamente e para de mandar qualquer indireta sobre a pressão dos pneus. A go-ló-ria!
Agora podem contar comigo! Ensino direitinho como se faz! É mole! Piece of cake!

sábado, novembro 01, 2014

Halloween, Uma Salada Mista

Boa parte de nossas festas tem origens pagãs. Nesse momento mesmo estamos diante do Halloween que se inspirou num festival celta que ia de 30 de outubro a 2 de novembro. Esse festival se reportava ao fim do verão, como também ao culto aos mortos e à deusa YuuByeol, deusa esta que na mitologia celta era o símbolo da perfeição. Vão vendo.
Sabemos o papel que os romanos tiveram na formação dos povos que chegaram até os dias de hoje, alguns deles não chegaram inteiros, como é o caso dos druidas. Devido ao tacão da igreja católica foram pro brejo culturas belíssimas e ouso dizer que o que temos hoje em matéria de cultura e religião é um resultado decepcionante das marchas implacáveis de um povo sobre outros. Lamentável a pasteurização provocada pelos romanos nos últimos 2000 anos na brilhante diversidade dos povos que não puderam lhes resistir. 
Assim sendo, Halloween passou de Hallow (Sagrada) Evening (Noite), uma noite que era consagrada à vigília por Todos os Santos, para essa verdadeira mistureba de Finados com Todos os Santos, com alusões ao flagelo da peste negra e bubônica que matou metade da população da Europa - daí as máscaras e fantasias que na época protegiam os enfermos de serem mortos com uma indesejável antecedência.
Sobre o "gostosuras ou travessuras" havia na Idade Média o costume do "souling", em que crianças iam de porta em porta pedindo um bolo, e em troca oravam pelos familiares falecidos daquelas casas. Imaginaram a cena?
Enfim, está bem claro que a morbidez da festa tem realmente alguma coisa a ver com a proximidade do dia de finados, a entrada no signo de escorpião, além de permitir o uso e abuso de elementos cênicos para nos lembrar de nosso destino final.
Mas, e a abóbora? A lenda da lanterna do Jack começou com um nabo esculpido, depois a beterraba e a batata, e quando os ingleses chegaram nos EUA encontraram a adorável e esculpível abóbora.
Não me convenceu.
Me fez lembrar de Cinderela e sua abóbora encantada. Nada encantada, na verdade. Era o que tinha na cozinha, na paupérrima cozinha de Cinderela.
Mesmo assim. A abóbora simboliza a fertilidade e a sabedoria. Tá melhorando. 
Fui ver o significado da cor abóbora. Putz! Não tem. A belíssima cor abóbora é catalogada como cor laranja. Quero até crer que são parecidas. Enfim, fiquemos com o que temos:
A cor laranja significa alegria, vitalidade, prosperidade e sucesso. É uma cor quente, da mistura do vermelho com o amarelo. Está associada à criatividade. Seu uso desperta a mente e ajuda na assimilação de novas idéias.
Energia, entusiasmo, comunicação e espontaneidade são palavras ligadas à cor laranja - e abóbora também.
É uma cor estimulante para o apetite (disso o McDonalds sempre soube), como também estimula o diálogo. É uma cor ótima para a copa-cozinha, salas de jantar e visitas.
Fico me perguntando: por que não no quarto?


Morar Nos EUA

Sendo mais ridícula do que já sou, mais desengonçada nas emoções, mais colonizada, mais tudo o que não me enobrece - que já sou - talvez ficar deslumbrada no hemisfério norte seja a coisa mais embaraçosa pra admitir nesse momento.
Dito isto, vamos aos fatos:


 Morar nos EUA é:

1) Comer manteiga de amendoim crocante de colher
2) Pensar: úia! tenho tanta coisa pra fazer hoje! e aí botar a roupa na máquina, a louça na máquina, e a violinha brasileira no saco, hehe.
3) Andar por ruas tão irritantemente arrumadas e bem cuidadas, reconhecer que se pode andar nas calçadas tranquilamente sem quebrar nenhum osso ou esfarrapar nenhum ligamento. Ficar realmente chateada com esse contraste entre uma ruazinha reles aqui das brenhas e a minha rua em Araruama, que há séculos pede um calçamento e nem é tão reles assim.
4) Comprar uma torta de frango super bem feita, palatável, natural, sem pimenta, sem maiores condimentos (até deu pra perceber um arzinho de noz moscada) num mercado que só vende produtos de boa procedência, que podem fazer parte do cardápio do mais ortodoxo dos ortodoxos hebreus.
5) Ligar o rádio do carro e poder, num giro do dial, escolher entre uma enormidade de repertório o que você quiser ouvir, como por exemplo as 3 emissoras que já programei: uma só de hits do Frank Sinatra (cantados por todos os bons/excelentes cantores de sua geração e os que resistiram, das gerações seguintes); a outra só de hits de musicais da broadway; e a outra de música clássica. São centenas de opções, eu devolvo o carro pra locadora e não chego a ter idéia do dízimo delas. E o display do rádio mostra o estilo da música, o autor e o intérprete. Assim não dá!
6) Ter à sua disposição um mercado varejista que disputa o cliente, e que convive com lojas de 1 dólar, como é a Dollar Tree - que diferentemente das General Dollar, só vende coisas (inclusive comestíveis) a 1 dolar; as lojas dollar só vendem coisas novas. Já as lojas thrift vendem coisas inacreditavelmente bem conservadas (usadas) e baratas, além das inefáveis garage sales, que fazem a alegria de quem chega e precisa rapidamente montar a casa.
7) Da polícia, dos bombeiros e dos paramédicos já falei, né?
 Calçadas irritantemente adequadas.

 Parte do panorama do condomínio onde estou, com especial atenção às necessidades de exercício dos cães.

 Entrada do meu prédio

Garage 114, essa primeira à direita.

quinta-feira, outubro 30, 2014

Ficar É Mais Complicado II

A pessoa dá a volta ao mundo mas não é capaz de encaixar o cilindro coletor de lixo no aspirador de pó. É possível isso?
Dá a volta ao mundo e não sofre um reles acidente, um nada, um susto, uma curva mal feita. É só querer se instalar que já interpreta mal uma buzinada - coisa bem rara por aqui - quando está parada no sinal e avança pelo cruzamento, sem conferir o sinal, escapa do primeiro, mas não escapa do segundo carro. Toma-lhe uma traulitada na porta do carona que se não é os carros terem um padrão de qualidade aqui nessa terra, não sei não. O que quero dizer é que SE eu tivesse com carona num carro qualquer na pátriaamada o carona teria levado um susto grande.
Dando  uma vistoriada no amassado, fica evidente que não importa se o fabricante é coreano - no caso é - a Hyundai poderia ser a primeira linha, muito além da Kia, muito muito além - pois então, ficaram evidentes todas as barras de proteção e segurança na porta, de maneiras e causos que o carro que me abalroou, um SUV, em poucos minutos começou a se desintegrar (exagero: só caiu toda a grade da frente, haha). Ninguém saiu ferido, tirando o meu orgulho, que no momento está na tipóia.
Imediatamente chegaram os bombeiros, depois os paramédicos e a seguir os poliça.
Os bombeiros viram que não teriam o que fazer e se mandaram (estou chutando - não sei nem se os bombeiros chegaram, eu estava meio atordoada, essa é que é a verdade). Os paramédicos vieram, perguntaram se eu não queria ir de ambulância pro hospital (se eu falasse inglês teria dito "mas nem ------ndo!"), verificaram a minha pressão, insistiram com o lance da ambulância, e enfim não brincam mesmo em serviço: me deram um papel pra assinar confirmando que eu "me recusei" a ir pro hospital.
Fiquei preocupada com a pessoa (ou as pessoas) do outro carro, mas fui orientada a permanecer onde estava. Imagina! Se é em certos países que eu conheço uma estaria tomando o pulso da outra.
Depois me convenci de que o melhor mesmo é a outra pessoa (uma senhoura) não ter visto a minha cara, já pensaram se é uma sem INDUCA e me passa uma descompostura nessa língua alienígena?
Depois que levei a pancada, consegui sair do cruzamento e encostar mais adiante. Fiquei bem nervosa e beeeem chateada. Alguém me perguntou como eu estava e eu fiz menção de ter sentido dor no ombro direito devido ao cinto de segurança e ela me pergunta: heart attack?
Quédizê.
Fiquei passada, bem passada. Mas vejamos pelo lado bom: ninguém se machucou e posso agora testemunhar que a chegada do socorro é rápida e eficiente.
Depois de toda a papelada policial me mandei pros alugadores de carro e quando me perguntaram como eu ia doing só pude responder não tão good, não tão good.
Mas é assim. Paga-se um seguro bem alto nessas locadoras. Elas estão pouco se lixando pra um sinistro no carro porque ele será reembolsado integralmente pelo seguro. Not a big deal.
Mas ó. Tô passada, bem passada.
De qualquer modo peguei um outro Hyundai branco, mais novo e mais esperto. Devo passar alguma credibilidade porque fui pra locadora pensando que eles não renovariam a locação comigo, vejam a que ponto chegou o estado da minha alma.
Escrevo pra dizer que "ficar é mais complicado", sim. Numa viagem mais corrida (de carro), não ficamos dando bobeira em cruzamentos mixurucas. É só highways e zero cruzamentos.
Podem deixar que vou ficar mais atenta às buzinas e tentar conter o reflexo condicionado adquirido em anos e anos, outrora e alhures, digamos assim.

sábado, outubro 25, 2014

Ficar É Mais Complicado

Não demorou muito tempo pra eu entender que ficar é sempre mais complicado. Você tem conta num banco (americano, é claro)? Tem Social Security? Tem bom histórico de crédito (nos EUA, é claro), tem isso, tem aquilo?
Foi de um tal jeito que não demorou nada pra eu lembrar da herança cartorial portuguesa, sem os cartórios – pelo menos isso. Era assim: tem conta no banco (pra alugar o apartamento)? Não, não tenho ainda porque preciso de um  endereço ou qualquer conta em meu nome. Cachorro correndo atrás do rabo define.
Bem, well.
Passar 5 ou 6 meses num lugar só é mais complicado. Você tem que conversar com a Cia. de Seguros pra contratar o seguro do apartamento, depois liga pra Cia. de Luz, depois liga pra AT&T, sim, temos monopólio na terra da liberdade e do mercado livre, e termina o dia se odiando por não ter dedicado os anos da sua juventude pra estudar inglês como qualquer sul-americano normal.
É mais complicado porque você tem que se estabelecer.
Viajar pelo mundo por 5 ou 6 meses é pinto perto da mão-de-obra que dá pra você se instalar. Mas é bom, hein?
Abre parêntesis:
Dizem que brasileiro é “tão bonzinho”, como se fosse o único povo no mundo capaz de receber a amiga da esposa e ser o “pau pra toda obra” na vida dela. Sem Neal Breshears eu ainda estaria de mudança. O cara, além de ter uma caminhonete bem jeitosa, ele é, si propri, um faz-tudo de primeira. Foi botar os pés no apartamento e reclamar com o rapaz da manutenção que as lâmpadas estavam horrívias e o lustre da sala era uma vergonha para a nação americana. Enquanto eu estava resolvendo outras coisas, ele ficou aqui no apartamento ajeitando tudo, montando a cama,

Péra. Fecha parêntesis.

Abre novo parêntesis pra falar da cama:
Pessoas queridas e amáveis fizeram vários oferecimentos em relação a camas (em outro parêntesis explicarei que tudo nesse país é descartável, as camas também). Ora, não custa nada ver, não é? Não é. Custa.
Cama é um item classificado como íntimo e pessoal, pelo menos pra mim. Mesmo assim, escorraçada pelos preços de uma cama nova, fui com Vitória e Neal  ver uma cama Queen, vejam bem, uma cama Queen, cuja dona asseverou que estava em ótimo estado. Não estou aqui pra esnobar uma cama Queen, estou? Bem, uma cama completa, disse a dona. Não era apenas o colchão, vejam bem. O kit completo de uma cama Queen em ótimo estado, disse ela.

Vou fechar esse parêntesis apenas informando que, fiada na bom senso do serumano, fui lá ver os dentes do cavalo dado, já com toda a mudança no apartamento. Ao ver a dita cama, meus queridos Vitória e Neal me perguntaram “é muito grande, não é?” - e eu que nem sou de teatro saquei na hora que se tratava da MELHOR DEIXA de todos os tempos, disse, constrangida e chorosa: que pena, meu quarto é muito pequeno!
Fechado esse parêntesis, voltemos ao enredo do Neal montando a cama nova, que afinal comprei de muito bom grado, e que passou no teste drive da noite passada. Além de ser um faz tudo, faz tudo direitinho, gentem! Não estou aqui pra bajular ninguém, mas por favor, queiram imaginar uma caminhonete com uma boa mesa + 4 cadeiras, um bom sofá de 2 lugares, duas mesas de canto, duas malas e meia, tudo ajeitadinho, nenhuma calçola voando pelos ares, cadeiras e mesas num comportamento impecável, cobrindo uma distância grande devido ao atalho que pegamos pra fugir das múltiplas (pula essa parte) rodovias e highways que nos servem por aqui, enfim, chegando lindos e intactos em nosso destino – e esse rapaz ainda descarrega tudo, põe no lugar, monta a cama, troca as lâmpadas, enfim, quê qué isso?
Ainda por cima, deu o maior chega pra lá no cara que estava me empurrando um Hyundai por fora bela viola, cujo interior tem revestimento clarinho, o que passou despercebido aos motoristas (acho que é às motoristas) anteriores, que fizeram o grande favor de sair de casa sem usar modess ou coisa que o valha e... enfim, imaginaram? Ou alguém que não usou a fralda geriática, ou ambos!
Quando fui pegar o carro, prevenida com uma toalha na mão pra não sentar em cima daquele armagedon fisiológico, o Neal se vira pro cara e diz simplesmente: isso aqui está uma nojeira!
Vejam o que são os hormônios masculinos na vida de certos alugadores de carro. O cara não podia ficar branco, mas se pudesse, ficaria; virou-se rapidamente e disse: vamos ver outro carro? Isso por que a retardada aqui já tinha passado lá, fechado os acordos todos, reclamado bastante etc e tal, e o vendedor me respondeu, hoje não teremos nada melhor, só por muita sorte.
Repito. O que é um cara de bigode na vida de um alugador de carros, hein? Um cara que chega e fala: que nojeira!, e o alugador se põe no lugar dele (do alugador, que no caso é praticamente debaixo daquele banco de carro bem nojento), e tudo se resolve!
Isso é ou não é uma maravilha!

O repertório é grande, mas vou ficando por aqui, não sem antes dizer o óbvio pra quem conhece Vitória Régia, uma rainha em nossos corações. Vitória me levou pra todos os lugares durante esses dias, me ajudou em inúmeros trâmites, cobriu longas distâncias, me animou quando eu já estava pedindo penico (e uma escadinha pra subir na caminhonete! Mas ESSE é outro papo!), enfim, uma amiga mais que querida, que só veio confirmar que minha vinda pra Kansas City foi uma decisão certeira, certa e acertada.

terça-feira, julho 29, 2014

Mancebos de Málaga

Foi lançado em 26 de julho de 2014 o livro "Mancebos de Málaga", um primeiro e necessário passo para desvendarmos a história de nossos antepassados. Somos uma família imensa na Espanha e América do Sul.

Da parte que nos toca, somos descendentes dos Mancebos de Málaga que migraram para o interior do Estado do Rio de Janeiro, Brasil.

ORIGENS DO CLÃ MANCEBO AZANHAS

1ª geração conhecida: FRANCISCO MANCEBO PALOMO, casado com MARIA RUIZ LUQUE; CRISTOBAL AZANAS AGUILLAR, casado com FLORA CABELLO CHICON.

2ª geração conhecida: JOAQUIM MANCEBO RUIZ e LUCIANA AZANAS CABELLO.(estes foram os pais de Francisco, Joaquinito, Luciana, Flora, Mariquita e Salvador..

3ª geração conhecida: Francisco (*15.05.1872 + 29.08.1927), Joaquim (*02.02.1883, + 04.10.1970), Luciana (*18.04.1887 + 13.06.1970), Flora (*1893 + 13.12.1923), Mariquita (*1897 + 1923) e Salvador (*16.02.1899 + 28.02.1965).

4ª geração: nossos pais

5ª geração: nós

6ª geração: nossos filhos

7ª geração: nossos netos.


Luciana Azanhas Cabello (a matriarca) faleceu em 17 de abril de 1923, aos 73 anos de idade, quando Francisco tinha 50 anos, Joaquinito 40, Luciana 36, Flora 30, Mariquita 26 e Salvador 24. Flora também faleceu em 1923.


Francisco Mancebo Azanhas (nascido em 15.05.1872, falecido em 29.08.1927) se casou também em Trajano de Moraes, com Francisca Garcia Mesa, ele viúvo, com 31 anos de idade, lavrador, ela com 22 anos de idade, em 01 de agosto de 1903.


Luciana Mancebo Azanhas (nascida em 18.04.1887, falecida em 23.06.1970) se casou com Mariano Garcia Mesa em 24 de fevereiro de 1907, em Trajano de Moraes – ambos com 19 anos de idade.

Joaquim Mancebo Azanhas (nascido em 02.02.1883, falecido em 04.10.1970) casou-se em Carapebus com Anna de Freitas Reis (nascida em 29.06.1903), ele com 39 e ela com 19 anos de idade.

Salvador Mancebo Azanhas (nascido em  16.02.1893, falecido em 28.02.1965) casou-se em segundas núpcias com Cecília Azevedo (nascida em 22.11.1900), viúvo de Anna Cordeiro Mancebo. Casamento em Carapebus em 27 de maio de 1922.