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segunda-feira, novembro 30, 2009

Ladrões de Idéias

Saramago nunca roubou uma idéia minha.
Saramago nem de longe escreveu sobre alguma coisa pensada por mim.
Saramago só saberá muito mais tarde que foi um modelo pra mim.

João Ubaldo Ribeiro nunca roubou uma idéia minha.
João Ubaldo Ribeiro nem de longe escreveu sobre alguma coisa pensada por mim.
João Ubaldo Ribeiro nem mesmo chegou a ser um modelo pra mim.

É bom que me explique:
Saramago escreve sobre temas que me afligem, digamos assim. Saramago fez inovações formais na sua escrita. Parece fácil, mas é muito complicado. Saramago mora numa das Ilhas Canárias.
Saramago tem um livro rejeitado que até hoje não foi publicado. Seu segundo romance foi escrito 30 anos após o primeiro.
Saramago nasceu em novembro (ele não lerá isto, pois consideraria uma grande bobagem; ainda bem).

João Ubaldo Ribeiro foi criado no açoite da literatura, no chicote do dicionário e no ferrão da gramática e de provas orais perante o pai, diariamente. E seu pai era autoritaríssimo.
João não ficou traumatizado, ao contrário, entrou pra Academia Brasileira de Letras aos 52 anos de idade.
João Ubaldo Ribeiro não acha que haja mosquitos em Itaparica. Longe disso! Em Itaparica morrem, vivem e tornam a morrer todos ou quase todos os seus personagens.
João Ubaldo Ribeiro traduziu "Viva o Povo Brasileiro" para o inglês (havia traduzido "O Sargento Getúlio"), idioma no qual é fluentíssimo.
João Ubaldo Ribeiro não lerá o que escrevo, portanto, não ficará furioso ao saber que destaquei que ele não nasceu em novembro.

Elizabeth Gilbert, sim! Ahhhhhha. Elizabeth Gilbert roubou minha idéia. E foi mais além na sua ousadia: colocou a idéia em prática.

sexta-feira, novembro 27, 2009

The Thanksgiving Day







O Dia de Ação de Graças vem a ser o feriado nacional mais importante para a família norte-americana. Sim, senhores. Mais importante que o Natal.
O sentido deste feriado é celebrar a prosperidade e agradecer por ela.
O primeiro TD se deu em 1621, em Plymouth (MA), quando após o rigoroso inverno de 1620, os colonos ingleses obtiveram uma colheita abundante, se consideraram aptos a viver no Novo Mundo e resolveram agradecer a Deus e comemorar com um farto banquete.
Isto teria ocorrido no final do outono, quando se encerram as colheitas.
Somente 200 anos depois é que o feriado se tornou oficial, por proclamação do presidente Lincoln, estabelecendo que seria comemorado no último dia de novembro (1863). Naqueles idos o feriado era regional. Em 1941 o presidente Roosevelt assinou o projeto de lei determinando que a comemoração seria na 4ª quinta feira de novembro.
Os símbolos do TD são elementos do cultivo e da culinária simples do norte dos EUA, ancorada naquele primeiro banquete coletivo e ao ar livre, com perus, batata doce, milho e molho de amoras.
Os índios nativos (os Wampanoag) tiveram uma importância fundamental na sobrevivência e adaptação dos europeus ao Novo Mundo: ensinaram-lhes o cultivo do milho e de outros alimentos, e a reconhecer e a evitar as plantas que eram venenosas. Lamentavelmente seu thanksgiving não foi dos mais amáveis, pois vieram a ser massacrados pelo "invasor".
É uma data em que as famílias se reúnem para um festival gastronômico e para uma convivência de um fim-de-semana prolongado, onde são feitas as devidas atualizações dos laços e das histórias familiares.
Obviamente a macaquice de imitação trouxe o Dia de Ação de Graças para o Brasil. Ora, um Dia de Ação de Graças é sempre muito louvável, mas deveria ter ao menos uma contextualização nativa, como é o caso dos EUA e Canadá. Ocorre que o embaixador Joaquim Nabuco achou bacanas as comemorações em Nova Iorque e o presidente Dutra sacramentou a lei. Típico.
Os primeiros passageiros do Mayflower a aportar no Mundo Novo chegaram para construir e estabelecer ali uma vida que consideravam impossível ter na Europa. Não foram invasores. Não eram degredados. Levaram as famílias, as crenças e os valores morais elevados; construíram vilas e cidades; foram os principais atores na formação do povo e do país mais poderoso do planeta.
Ponhamo-nos a pensar.

quarta-feira, novembro 25, 2009

A Estrondosa Vida Amorosa dos Gatos

São 3:39 da madrugada do dia 25/11/09. Fui acordada por barulho, gritos, miados e latidos.
Saí da cama e fui pra varanda ver o que se passava.
O barulho era o de uma forte discussão, curiosamente entremeada por sussurros indefinidos.
Vou para o Google, que afinal é pra onde devemos ir se não queremos desaproveitar o tempo, e se a curiosidade é suficiente, e encontro um cardápio vasto.
Pois bem. Leio um artigo muito bem escrito no site "Os Gatos". Parece que é um site português. Não há a identificação do(a) autor(a).
Aprendo um pouquinho mais quando leio que o comportamento do felino durante a cópula em nada se compara ao de qualquer outro animal doméstico.
É o seguinte: a fêmea se deixa levar de um elevado grau de incitabilidade sexual para um acesso de agressividade num piscar de olhos. Assim que se realizam os trabalhos a gata emite um som muito alto e agudo e separa-se violentamente do gato, podendo, se facilitar, mandar uma tapona nas fuças dele.
O intercurso sexual dos gatos é muito parecido com uma briga verdadeiramente feia e assustadora.
Mas o mais incrível é que o casal pode repetir a extravagante experiência de 10 a 20 vezes num mesmo dia!
Agora mesmo volto a ouvir miados que em muito se assemelham ao choro de crianças de colo. Só que mais dramáticos.
Diz o texto que os machos são dados mais à "vagabundagem" que as fêmeas - sem maiores explicações; diz a seguir que as fêmeas, por terem um período definido de cio, podem copular com vários machos diferentes (é certo que elas procuram os mais fortes e bonitos, aqueles que dominam a paisagem...).
A coisa mais interessante do texto é a informação de que os felinos (sejam os domésticos, sejam os de grande porte) formam um "casal provisório" quando a fêmea está no cio.
Normalmente os tigres e os leões levam uma vida solitária e só se juntam às fêmeas durante o cio, permanecendo com elas apenas alguns dias.
Gostei de saber que o leão é um felino social que pratica a poligamia.
Dificilmente se verá no reino animal felino aquela situação humana típica de "DR" - discutir a relação.
São 4:04 agora. Parece que os gatos foram cantar em outra freguesia. Eu e a cachorrada poderemos voltar a dormir em paz.

segunda-feira, novembro 09, 2009

Crianças de Domingo

Daniel Bergman, hoje com 47 anos de idade, dirigiu "Crianças de Domingo" aos 40 anos, baseado em uma história escrita por seu pai, Ingmar Bergman. Ingmar era filho de pastor protestante, fato sobre o qual é muito espinhoso tecer comentários. No texto de "Crianças de Domingo" Ingmar procura entender e se entender com o pai, mas também se coloca como a pessoa que era. Ser filho de pastor na Suécia, numa época em que os casamentos eram arranjados e havia uma certa pompa em tudo - é só rever Fanny e Alexander - não foi fácil para uma criança de domingo.
Ingmar nasceu em 1918.
Daniel faz um belíssimo filme com a história do pai e do avô. Eu o vi no cinema apenas uma vez e foi marcante. O filme foi lançado em 1992 (Söndagsbam).
Os suecos acreditam que as crianças nascidas no domingo têm uma sensibilidade especial.
Eu nasci num domingo, às 11 horas da manhã.
Poderia não haver sol, mas havia luz e claridade. Os primeiros dias de novembro não costumam ter o tempo firme. Nasci, pelo que sei, num dia meio "enferruscado".
Havia a luz do dia, acima das nuvens e do mau tempo.
Desde então peguei a claridade das 11 da manhã e tentei torná-la em luz e clareza.
Fui uma criança de domingo na acepção sueca do termo. Meu campo de consciência, de audição, de visão, de percepção sempre foram aguçados.
Precoce em muitos aspectos, tenho memórias bem remotas, por exemplo, de uma noite em que não me sentia bem e chamava por minha mãe... quem veio foi meu pai e perguntou como se pergunta a um adulto "o que é que você quer?". Naquela pergunta dissolveu-se o mal estar anterior dando lugar a um sentimento sólido atravessado na garganta, sentimento de incompreensão do que era o que eu queria, afinal? Como eu poderia (no sentido de ter capacidade) transmitir a meu pai o que eu queria, se eu estava chamando por minha mãe?
Quando se chama pela mãe é porque não sabemos o que queremos, ou sabemos que o consolo da mãe resolverá o mal estar, sem precisarmos saber o que nos incomoda.
Como Ingmar precisei exorcizar coisas que acontecem a todas as crianças, mas que com as crianças de domingo adquirem outra dimensão.
As crianças de domingo necessitam de âncora afetiva, não de puxões de orelha ou perguntas inadequadas.
Crianças de domingo precisam de uma ausculta toda especial. Não é com paus e pedras e dogmas e tábuas de mandamentos que as crianças de domingo vão se adequar ao mundo.
Também não é com preconceitos, julgamentos e condenações.
Gosto de pensar em mim como um espermatozóide valente e campeão numa corrida com milhões de concorrentes! A quantidade enorme de gametas numa fecundação se deve ao elevado número de obstáculos a vencer.
Alcançar a existência exige desde o início a superação de obstáculos.
Tenho pesar em avaliar o quanto uma criança sofre, por ser incompreendida, exigida demais, atada, calada e reprimida. Tenho pelas crianças um sentimento enorme de compaixão, pois carregam fardos quase insuportáveis. É preciso continuar sendo aquele espermatozóide valente e campeão o tempo todo!
Quem trabalha com crianças sabe o quanto o mundo adulto prevarica e abusa delas. Não há maldade nisso. O mundo é que não foi formatado pra incluir as crianças em sua estrutura. O mundo olha apenas para o adulto embutido na criança.
Convivi com crianças muito pequenas num orfanato em Apiaí, SP. Algumas delas tinham marcas e cicatrizes horríveis de espancamento parental. Lembro de um menino de 4 ou 5 anos que tinha a cabeça bastante deformada pois o pai batia nele com vergalhão. Deveríamos falar de Deus a essas crianças. Deus pai, Deus amor. Deus protetor.
Mas foi aquele menino que me falou de Deus, quando com voz doce e quase inaudível disse "papai do chéu".
Que adulto teria tal doçura na voz, após ser espancado brutal e covardemente?

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Eu nada sei, só sei que toda criança deveria ser tratada como uma criança de domingo.

segunda-feira, novembro 02, 2009

Navigare necesse; vivere non est necesse".

Escrevi abaixo alguma coisa de minha cabeça oca. Correndo atrás do prejuízo dei com uma monografia que explica melhor a frase, que nem é de Fernando Pessoa. Foi dita por Pompeu, um Big Boss romano, para estimular seus soldados em meio a uma tempestade. Mais tarde Hamburgo pegou a frase emprestada e a inscreveu em seu brasão. Hamburgo é uma cidade portuária alemã.
Enfim, trata-se de uma apologia à aventura, mais do que à vida. A navegar, mais do que a viver. A tornar a Pátria livre ou morrer pelo Brasil.
Sendo assim, mantenho o texto abaixo, mas tento dar u´a melhorada aqui em cima.
Sem esquecer que hoje em dia se navega com total segurança por todo o planeta, sem sair do lugar.
Quando muito, o computador vai junto.