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quinta-feira, outubro 30, 2014

Ficar É Mais Complicado II

A pessoa dá a volta ao mundo mas não é capaz de encaixar o cilindro coletor de lixo no aspirador de pó. É possível isso?
Dá a volta ao mundo e não sofre um reles acidente, um nada, um susto, uma curva mal feita. É só querer se instalar que já interpreta mal uma buzinada - coisa bem rara por aqui - quando está parada no sinal e avança pelo cruzamento, sem conferir o sinal, escapa do primeiro, mas não escapa do segundo carro. Toma-lhe uma traulitada na porta do carona que se não é os carros terem um padrão de qualidade aqui nessa terra, não sei não. O que quero dizer é que SE eu tivesse com carona num carro qualquer na pátriaamada o carona teria levado um susto grande.
Dando  uma vistoriada no amassado, fica evidente que não importa se o fabricante é coreano - no caso é - a Hyundai poderia ser a primeira linha, muito além da Kia, muito muito além - pois então, ficaram evidentes todas as barras de proteção e segurança na porta, de maneiras e causos que o carro que me abalroou, um SUV, em poucos minutos começou a se desintegrar (exagero: só caiu toda a grade da frente, haha). Ninguém saiu ferido, tirando o meu orgulho, que no momento está na tipóia.
Imediatamente chegaram os bombeiros, depois os paramédicos e a seguir os poliça.
Os bombeiros viram que não teriam o que fazer e se mandaram (estou chutando - não sei nem se os bombeiros chegaram, eu estava meio atordoada, essa é que é a verdade). Os paramédicos vieram, perguntaram se eu não queria ir de ambulância pro hospital (se eu falasse inglês teria dito "mas nem ------ndo!"), verificaram a minha pressão, insistiram com o lance da ambulância, e enfim não brincam mesmo em serviço: me deram um papel pra assinar confirmando que eu "me recusei" a ir pro hospital.
Fiquei preocupada com a pessoa (ou as pessoas) do outro carro, mas fui orientada a permanecer onde estava. Imagina! Se é em certos países que eu conheço uma estaria tomando o pulso da outra.
Depois me convenci de que o melhor mesmo é a outra pessoa (uma senhoura) não ter visto a minha cara, já pensaram se é uma sem INDUCA e me passa uma descompostura nessa língua alienígena?
Depois que levei a pancada, consegui sair do cruzamento e encostar mais adiante. Fiquei bem nervosa e beeeem chateada. Alguém me perguntou como eu estava e eu fiz menção de ter sentido dor no ombro direito devido ao cinto de segurança e ela me pergunta: heart attack?
Quédizê.
Fiquei passada, bem passada. Mas vejamos pelo lado bom: ninguém se machucou e posso agora testemunhar que a chegada do socorro é rápida e eficiente.
Depois de toda a papelada policial me mandei pros alugadores de carro e quando me perguntaram como eu ia doing só pude responder não tão good, não tão good.
Mas é assim. Paga-se um seguro bem alto nessas locadoras. Elas estão pouco se lixando pra um sinistro no carro porque ele será reembolsado integralmente pelo seguro. Not a big deal.
Mas ó. Tô passada, bem passada.
De qualquer modo peguei um outro Hyundai branco, mais novo e mais esperto. Devo passar alguma credibilidade porque fui pra locadora pensando que eles não renovariam a locação comigo, vejam a que ponto chegou o estado da minha alma.
Escrevo pra dizer que "ficar é mais complicado", sim. Numa viagem mais corrida (de carro), não ficamos dando bobeira em cruzamentos mixurucas. É só highways e zero cruzamentos.
Podem deixar que vou ficar mais atenta às buzinas e tentar conter o reflexo condicionado adquirido em anos e anos, outrora e alhures, digamos assim.

sábado, outubro 25, 2014

Ficar É Mais Complicado

Não demorou muito tempo pra eu entender que ficar é sempre mais complicado. Você tem conta num banco (americano, é claro)? Tem Social Security? Tem bom histórico de crédito (nos EUA, é claro), tem isso, tem aquilo?
Foi de um tal jeito que não demorou nada pra eu lembrar da herança cartorial portuguesa, sem os cartórios – pelo menos isso. Era assim: tem conta no banco (pra alugar o apartamento)? Não, não tenho ainda porque preciso de um  endereço ou qualquer conta em meu nome. Cachorro correndo atrás do rabo define.
Bem, well.
Passar 5 ou 6 meses num lugar só é mais complicado. Você tem que conversar com a Cia. de Seguros pra contratar o seguro do apartamento, depois liga pra Cia. de Luz, depois liga pra AT&T, sim, temos monopólio na terra da liberdade e do mercado livre, e termina o dia se odiando por não ter dedicado os anos da sua juventude pra estudar inglês como qualquer sul-americano normal.
É mais complicado porque você tem que se estabelecer.
Viajar pelo mundo por 5 ou 6 meses é pinto perto da mão-de-obra que dá pra você se instalar. Mas é bom, hein?
Abre parêntesis:
Dizem que brasileiro é “tão bonzinho”, como se fosse o único povo no mundo capaz de receber a amiga da esposa e ser o “pau pra toda obra” na vida dela. Sem Neal Breshears eu ainda estaria de mudança. O cara, além de ter uma caminhonete bem jeitosa, ele é, si propri, um faz-tudo de primeira. Foi botar os pés no apartamento e reclamar com o rapaz da manutenção que as lâmpadas estavam horrívias e o lustre da sala era uma vergonha para a nação americana. Enquanto eu estava resolvendo outras coisas, ele ficou aqui no apartamento ajeitando tudo, montando a cama,

Péra. Fecha parêntesis.

Abre novo parêntesis pra falar da cama:
Pessoas queridas e amáveis fizeram vários oferecimentos em relação a camas (em outro parêntesis explicarei que tudo nesse país é descartável, as camas também). Ora, não custa nada ver, não é? Não é. Custa.
Cama é um item classificado como íntimo e pessoal, pelo menos pra mim. Mesmo assim, escorraçada pelos preços de uma cama nova, fui com Vitória e Neal  ver uma cama Queen, vejam bem, uma cama Queen, cuja dona asseverou que estava em ótimo estado. Não estou aqui pra esnobar uma cama Queen, estou? Bem, uma cama completa, disse a dona. Não era apenas o colchão, vejam bem. O kit completo de uma cama Queen em ótimo estado, disse ela.

Vou fechar esse parêntesis apenas informando que, fiada na bom senso do serumano, fui lá ver os dentes do cavalo dado, já com toda a mudança no apartamento. Ao ver a dita cama, meus queridos Vitória e Neal me perguntaram “é muito grande, não é?” - e eu que nem sou de teatro saquei na hora que se tratava da MELHOR DEIXA de todos os tempos, disse, constrangida e chorosa: que pena, meu quarto é muito pequeno!
Fechado esse parêntesis, voltemos ao enredo do Neal montando a cama nova, que afinal comprei de muito bom grado, e que passou no teste drive da noite passada. Além de ser um faz tudo, faz tudo direitinho, gentem! Não estou aqui pra bajular ninguém, mas por favor, queiram imaginar uma caminhonete com uma boa mesa + 4 cadeiras, um bom sofá de 2 lugares, duas mesas de canto, duas malas e meia, tudo ajeitadinho, nenhuma calçola voando pelos ares, cadeiras e mesas num comportamento impecável, cobrindo uma distância grande devido ao atalho que pegamos pra fugir das múltiplas (pula essa parte) rodovias e highways que nos servem por aqui, enfim, chegando lindos e intactos em nosso destino – e esse rapaz ainda descarrega tudo, põe no lugar, monta a cama, troca as lâmpadas, enfim, quê qué isso?
Ainda por cima, deu o maior chega pra lá no cara que estava me empurrando um Hyundai por fora bela viola, cujo interior tem revestimento clarinho, o que passou despercebido aos motoristas (acho que é às motoristas) anteriores, que fizeram o grande favor de sair de casa sem usar modess ou coisa que o valha e... enfim, imaginaram? Ou alguém que não usou a fralda geriática, ou ambos!
Quando fui pegar o carro, prevenida com uma toalha na mão pra não sentar em cima daquele armagedon fisiológico, o Neal se vira pro cara e diz simplesmente: isso aqui está uma nojeira!
Vejam o que são os hormônios masculinos na vida de certos alugadores de carro. O cara não podia ficar branco, mas se pudesse, ficaria; virou-se rapidamente e disse: vamos ver outro carro? Isso por que a retardada aqui já tinha passado lá, fechado os acordos todos, reclamado bastante etc e tal, e o vendedor me respondeu, hoje não teremos nada melhor, só por muita sorte.
Repito. O que é um cara de bigode na vida de um alugador de carros, hein? Um cara que chega e fala: que nojeira!, e o alugador se põe no lugar dele (do alugador, que no caso é praticamente debaixo daquele banco de carro bem nojento), e tudo se resolve!
Isso é ou não é uma maravilha!

O repertório é grande, mas vou ficando por aqui, não sem antes dizer o óbvio pra quem conhece Vitória Régia, uma rainha em nossos corações. Vitória me levou pra todos os lugares durante esses dias, me ajudou em inúmeros trâmites, cobriu longas distâncias, me animou quando eu já estava pedindo penico (e uma escadinha pra subir na caminhonete! Mas ESSE é outro papo!), enfim, uma amiga mais que querida, que só veio confirmar que minha vinda pra Kansas City foi uma decisão certeira, certa e acertada.