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sábado, janeiro 31, 2015

Selma

Eu e minha companheira de viagem concluímos que não existem muitas cidades com nome de mulher. Vamos nos conformar com a configuração machista do mundo, entendendo que há contrapartidas que favorecem muito as mulheres, e que, infelizmente e naturalmente, são quase incógnitas tanto para homens quanto para mulheres.
Vou dar apenas um exemplo: vocês sabiam que geneticamente todos os embriões são femininos até a 6a. semana de gestação? Ou seja, originariamente, embrionariamente, a menina não sofreu nenhuma mutação da concepção ao nascimento. Suas gônadas permanecem as mesmas, da 1a. semana até à última. Já o menino, que vinha desde o início com o par de cromossomos X, repentinamente perde um X e ganha um Y. Não é à-tôa que com esse duplo X as mulheres sejam tão indesvendáveis e os homens com esse Y sejam tão previsíveis, hehe.
Não era esse o exemplo que eu tinha em mente, fica pra uma próxima.
Selma é o nome de uma cidadezinha no Alabama, que foi palco em 1965 da famosa Marcha liderada por Martin Luther King, em sua luta pelos direitos iguais para os negros.
O que mais impressiona no filme SELMA, produzido e um pouco protagonizado por Oprah Winfrey, ah, tem Brad Pitt na produção também, e um elenco verdadeiramente estelar, o que mais impressiona é o tempo. Em 1965 os EUA eram um caldeirão de conflitos raciais, algo impensável e inacreditável nos dias de hoje. E foi a apenas algumas décadas atrás! Era muito peculiar que aos negros, cidadãos americanos, eram negados os mais básicos dos direitos, mesmo aqueles que já estavam garantidos por lei. É como se uma superdose de intolerância estivesse circulando nas veias dos "outros" americanos. Muito diferente de xenofobia. Era a aversão ao diferente, e ao que nascia com o estigma da escravidão e minusvalia.
Selma é um filme lento, talvez porque a diretora não quisesse fazer nada explosivo, talvez porque o roteiro tenha entrado no ritmo dos pensamentos de Martin Luther King, um camarada bastante inflamado nos discursos e muito pacífico na ação. A cena em que pela segunda vez tentando atravessar uma ponte em Selma, uma vez que as tropas deram passagem para os manifestantes, Luther King se ajoelha, ora e retrocede, provoca nos companheiros uma reação muito negativa, à qual ele responde: prefiro que me odeiem a que haja mais sangue correndo pelas ruas.
Fez-me lembrar Moisés, que apesar de estar lidando com forças sobrenaturais, é considerado o mais humilde dos proeminentes de Israel. Luther King não pensava em si, não pensava na marcha de hoje, pensava nos direitos consolidados de amanhã.
As cidades com nome de mulher podem ser numericamente inferiores, com suas dores, lutas e mortes, mas são como verdadeiros himalaias: aguentam as tormentas e nos contam suas histórias.
Acho que Selma pode ganhar um dos Oscars a que concorre.

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