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terça-feira, dezembro 29, 2009

Chuvas

Hoje não havia a intenção, mas desafiei a natureza e seu curso meticuloso, dirigindo à noite, com chuva, ao mesmo tempo tirando fotos e passando torpedos.
Esse meu heroísmo tão bobinho (e perigoso) se deu porque eu amo a chuva. Amo o clima da chuva, o cheiro da chuva, o bafo ou o frescor da chuva (amo mais o frescor).
Ora eu via ondas caudalosas cruzando o asfalto e descendo em espiral pelas curvas abaixo, ora eu mesma era tomada pelo ponto cego da água barrenta vindo sobre meu campo de visão, me obrigando a ficar no vazio e no nada por alguns segundos.
Poderia vir um carro atrás? Sim. Na frente? Sem dúvida. Tudo é possível quando se sai de casa.
É sabido que um temporal tem forma, começo, meio e fim.
O grande barato da chuva é entrar nela e surfar em seu temporal temperamental.
É pegar onda na água do céu e do chão e nos raios mais adiante, confiando que os pneus de fato isolam e seguram o carro.
É saber (sim, saber) que ninguém virá na próxima curva.
É também saber que, sim, é melhor esperar passar a curva porque de lá vem um enorme caminhão.
Um temporal temperamental tem marcadores, deixa pistas e rastros, e por ser temperamental pode acabar de chofre, como também pode fingir que acabou e desabar 20 metros à frente.
É o máximo ver as águas de março fechando dezembro.
São as mesmas águas que prometem vida em nosso coração jobiniano. Afinal, estamos indo pra um novo ano: novas estações nos aguardam, e, quem sabe, quantos temporais?
Fiz fotos de pura alegria e contentamento (estão no orkut).
Experimentando múltiplos prazeres simultâneos, a chuva levando tudo, trazendo raios e energia, lavando, enxugando, curando, saciando, abraçando e beijando... Clandestina no meio da noite nos atracamos eu o temporal temperamental. Ninguém levou a pior.
Na chuva todos somos dançarinos perfeitos.

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