Não demorou muito tempo pra
eu entender que ficar é sempre mais complicado. Você tem conta num banco
(americano, é claro)? Tem Social Security? Tem bom histórico de crédito (nos
EUA, é claro), tem isso, tem aquilo?
Foi de um tal jeito que não
demorou nada pra eu lembrar da herança cartorial portuguesa, sem os cartórios –
pelo menos isso. Era assim: tem conta no banco (pra alugar o apartamento)? Não,
não tenho ainda porque preciso de um endereço
ou qualquer conta em meu nome. Cachorro correndo atrás do rabo define.
Bem, well.
Passar 5 ou 6 meses num lugar
só é mais complicado. Você tem que conversar com a Cia. de Seguros pra
contratar o seguro do apartamento, depois liga pra Cia. de Luz, depois liga pra
AT&T, sim, temos monopólio na terra da liberdade e do mercado livre, e
termina o dia se odiando por não ter dedicado os anos da sua juventude pra
estudar inglês como qualquer sul-americano normal.
É mais complicado porque você
tem que se estabelecer.
Viajar pelo mundo por 5 ou 6
meses é pinto perto da mão-de-obra que dá pra você se instalar. Mas é bom,
hein?
Abre parêntesis:
Dizem que brasileiro é “tão
bonzinho”, como se fosse o único povo no mundo capaz de receber a amiga da
esposa e ser o “pau pra toda obra” na vida dela. Sem Neal Breshears eu ainda
estaria de mudança. O cara, além de ter uma caminhonete bem jeitosa, ele é, si
propri, um faz-tudo de primeira. Foi botar os pés no apartamento e reclamar com
o rapaz da manutenção que as lâmpadas estavam horrívias e o lustre da sala era
uma vergonha para a nação americana. Enquanto eu estava resolvendo outras
coisas, ele ficou aqui no apartamento ajeitando tudo, montando a cama,
Péra. Fecha parêntesis.
Abre novo parêntesis pra
falar da cama:
Pessoas queridas e amáveis
fizeram vários oferecimentos em relação a camas (em outro parêntesis explicarei
que tudo nesse país é descartável, as camas também). Ora, não custa nada ver,
não é? Não é. Custa.
Cama é um item classificado
como íntimo e pessoal, pelo menos pra mim. Mesmo assim, escorraçada pelos
preços de uma cama nova, fui com Vitória e Neal ver uma cama Queen, vejam bem, uma cama Queen,
cuja dona asseverou que estava em ótimo estado. Não estou aqui pra esnobar uma
cama Queen, estou? Bem, uma cama completa, disse a dona. Não era apenas o
colchão, vejam bem. O kit completo de uma cama Queen em ótimo estado, disse
ela.
Vou fechar esse parêntesis
apenas informando que, fiada na bom senso do serumano, fui lá ver os dentes do
cavalo dado, já com toda a mudança no apartamento. Ao ver a dita cama, meus queridos Vitória e Neal me perguntaram “é muito
grande, não é?” - e eu que nem sou de teatro saquei na hora que se tratava da
MELHOR DEIXA de todos os tempos, disse, constrangida e chorosa: que pena, meu
quarto é muito pequeno!
Fechado esse parêntesis,
voltemos ao enredo do Neal montando a cama nova, que afinal comprei de muito
bom grado, e que passou no teste drive da noite passada. Além de ser um faz
tudo, faz tudo direitinho, gentem! Não estou aqui pra bajular ninguém, mas por
favor, queiram imaginar uma caminhonete com uma boa mesa + 4 cadeiras, um bom
sofá de 2 lugares, duas mesas de canto, duas malas e meia, tudo ajeitadinho,
nenhuma calçola voando pelos ares, cadeiras e mesas num comportamento
impecável, cobrindo uma distância grande devido ao atalho que pegamos pra fugir
das múltiplas (pula essa parte) rodovias e highways que nos servem por aqui,
enfim, chegando lindos e intactos em nosso destino – e esse rapaz ainda
descarrega tudo, põe no lugar, monta a cama, troca as lâmpadas, enfim, quê qué
isso?
Ainda por cima, deu o maior
chega pra lá no cara que estava me empurrando um Hyundai por fora bela viola,
cujo interior tem revestimento clarinho, o que passou despercebido aos
motoristas (acho que é às motoristas) anteriores, que fizeram o grande favor de
sair de casa sem usar modess ou coisa que o valha e... enfim, imaginaram? Ou
alguém que não usou a fralda geriática, ou ambos!
Quando fui pegar o carro,
prevenida com uma toalha na mão pra não sentar em cima daquele armagedon
fisiológico, o Neal se vira pro cara e diz simplesmente: isso aqui está uma
nojeira!
Vejam o que são os hormônios
masculinos na vida de certos alugadores de carro. O cara não podia ficar
branco, mas se pudesse, ficaria; virou-se rapidamente e disse: vamos ver outro
carro? Isso por que a retardada aqui já tinha passado lá, fechado os acordos
todos, reclamado bastante etc e tal, e o vendedor me respondeu, hoje não
teremos nada melhor, só por muita sorte.
Repito. O que é um cara de
bigode na vida de um alugador de carros, hein? Um cara que chega e fala: que
nojeira!, e o alugador se põe no lugar dele (do alugador, que no caso é
praticamente debaixo daquele banco de carro bem nojento), e tudo se resolve!
Isso é ou não é uma
maravilha!
O repertório é grande, mas
vou ficando por aqui, não sem antes dizer o óbvio pra quem conhece Vitória
Régia, uma rainha em nossos corações. Vitória me levou pra todos os lugares
durante esses dias, me ajudou em inúmeros trâmites, cobriu longas distâncias,
me animou quando eu já estava pedindo penico (e uma escadinha pra subir na
caminhonete! Mas ESSE é outro papo!), enfim,
uma amiga mais que querida, que só veio confirmar que minha vinda pra Kansas
City foi uma decisão certeira, certa e acertada.
4 comentários:
Se o bigode for americano, é ainda melhor nesse caso. :)
Hahaha! Não é?
Ana Maria Naninha disse:
Ri muito com seu post, pra variar... Espero que a "dificulidade" de conexão seja logo resolvida, "a fim de que possamos" curtir td que vem por aí.
Bjs
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