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quarta-feira, agosto 24, 2005

Abre haspas:

Transcrevo de O Globo de 210805 (Veríssimo):

Leitores têm estranhado minha reticência em relação ao escândalo que domina o noticiário e as conversas e ameaça fazer o Brasil cair no caos, ou nas mãos do Severino. Estranho a estranheza. A reticência não é tanta assim, tenho dado meus palpites. Mas alguém esperava que eu fosse participar de um massacre só para parecer imparcial? Critico o governo Lula desde que ficou claro que sua política econômica seria a do PSDB e que iria de Malan a pior e não tenho nenhuma ligação com o PT fora a simpatia declarada a alguns amigos. Mas não devo nenhum tipo de contrição pelo que acreditava e não vou contribuir nem com silêncio constrangido para a tese propagada com furiosa euforia pela direita, de que a ruína do PT é a ruína definitiva da esquerda no Brasil e a prova de que um governo de origem popular não tem competência nem para esconder sua sujeira sob o tapete como gente mais preparada - sem falar nos erros de português - o que dirá administrar um país. O PT que saia, se puder, do lodaçal em que se meteu e - para repetir o mantra do momento, nem sempre dito com muita sinceridade - que tudo seja investigado e todos os culpados sejam punidos, mas que se chame o fervor ideológico que move certos políticos e certa imprensa pelo seu nome verdadeiro: massacre. Não sou imparcia. Sou parcial a tudo que prometa nos tirar desta triste rotina de oligarquias eternizadas e privilégios intocáveis, ou miséria eternizada e submissão intocável, e a esta outra triste rotina de governos de esquerda abatidos no nascedouro - quando não se autodestroem. E, claro, ao Internacional e ao Botafogo, mesmo quando não merecem. No Brasil, ser objetivo é quase uma forma de cumplicidade.

Parece que há um movimento da história em direção ao centro; as esquerdas não se sustentam no poder, a não ser pelo golpe. Este não parece ser o cenário aqui agora já que - parece - um esquema nessa direção foi desmantelado.
Realmente não dá pra ser imparcial quando se trata de tentar romper um círculo vicioso.

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